Malick é um diretor que confia naquela máxima de que ‘uma imagem vale mais do eu mil palavras’. E com a ajuda do diretor de fotografia mexicano Emmanuel Lubezki (indicado ao Oscar pelo filme) ele cria uma composição extremamente bela e eficiente na tarefa de solidificar uma história complexa e interessante. Como já foi provado em seus três filmes anteriores (os outros dois são “Terra de Ninguém” e “Cinzas no Paraíso”), esse cineasta é capaz de extrair poesia dos planos de seu filme. A diferença, deste para outros filmes que querem ser belos, é que a beleza de suas imagens é uma conseqüência, e não a causa dos seus movimentos de câmera e enquadramentos.
O Novo Mundo é um filme que trabalha com a percepção dos sentidos da platéia, aliando música clássica de Wagner e Mozart com intuito de transportar quem vê o filme para um outro mundo. Nesse caso, o título pode se referir não apenas ao personagem inglês de Farrell que vai para a América, mas também a todos aqueles que se deixam levar pela possibilidade de serem tragados para delírio de imagens que buscam o sublime.
O roteiro conta a história da lenda da princesa Pocahontas, embora esse nome nunca seja mencionado ao longo do filme. Ele conhece John Smith, um soldado mercenário, que desembarca no novo continente, ao lado de mais de 100 homens, em abril de 1607. Esse grupo foi patrocinado pela Companhia da Virgínia, que pretende fundar uma colônia na região. Ele, porém, é um dos poucos que se mostra apto a se estabelecer no local.
Smith é o único aberto à possibilidade de diálogo com o povo nativo. Dessa relação ele conhece a bela jovem Pocahontas, por quem passa a ter um estranho fascínio. O oficial acaba sendo seqüestrado pela tribo e passa uma temporada com eles, tornando-se amigo de todos e aprendendo sobre os costumes, cultura e tradições locais. Com o tempo, ele vai rompendo barreiras e ficando mais próximo da jovem princesa, até que a relação se transforma em um romance.
Esse romance interracial é retratado de uma forma etérea, quase irreal. Malick sabe que está mexendo com uma lenda famosa, por isso prefere aborda-la por um lado menos realista. Desta forma, a lenda de Pocahontas é uma metáfora do destino dos nativos que, seduzidos pelos colonizadores, acabaram perdendo sua identidade cultural, e, mais tarde, praticamente foram dizimados. Porém, Smith não age de má-fé, mas por um impulso amoroso mesmo, pelo deslumbramento com o novo.
A verdadeira Pocahontas morreu em 1617, na Inglaterra, e não se sabe se de pneumonia ou tuberculose. Aliás, pouco se sabe sobre o que realmente aconteceu com ela. Talvez tivesse se casado pela segunda vez, mas sabe-se que seu nome era Lady Rebecca. Com seu filme, porém, Malick passa além da visão lendária da personagem. Mesmo assim, também não tem uma visão realista. Ele encontra o meio termo entre o que deveria ser e o que supostamente foi, entre a história e o mito, e assim consegue aliar essa trajetória às suas imagens sofisticadas, criando um universo à parte, um verdadeiro mundo novo.