Bohemian Rhapsody é o tipo da cinebiografia feita sob medida para inebriar os muitos fãs do cantor e compositor Freddie Mercury (1946-1991), interpretado com apaixonante dedicação pelo ator norte-americano Rami Malek, que venceu merecidamente o Oscar de melhor ator pelo papel. O filme recebeu outros três Oscar técnicos: montagem, edição de som e mixagem de som.
À primeira vista, Malek, filho de egípcios, não tem maior semelhança com o verdadeiro Mercury – que era de origem indiana, nascido em Zanzibar, onde viveu até os 16 anos, mudando-se então para Londres. Mas esse detalhe físico é rapidamente esquecido pela intensidade que Malek injeta no seu personagem, cujo espírito demonstra compreender, recriando sua criatividade, energia e entrega no palco, em vibrantes números musicais, capazes de arrepiar os amantes de sucessos como Love of My Life, We Will Rock You, We are the Champions e a própria canção que empresta o título ao filme.
Passa-se em linhas gerais pela trajetória pessoal do cantor, desde sua juventude, quando se aproximou dos músicos Brian May (Gwilym Lee), Roger Taylor (Ben Hardy) e John Deacon (Joseph Mazzello), formando com eles a banda Queen, nos anos 1970. Eles são, evidentemente coadjuvantes num filme em que a estrela maior tem que brilhar, com seu talento e contradições.
Sua vida sexual complicada, com muitas aventuras com vários amantes ocasionais e uma ligação longa com Mary Austin (Lucy Boynton) – que foi sua esposa e amiga até sua morte -, também passam pela tela, até porque não haveria como dissociá-la do furacão permanente que era Freddie.
Sob a direção do experiente Bryan Singer (da franquia X-Men), a história roteirizada por Anthony McCarten atravessa sem maiores sobressaltos essa ascensão vertiginosa do grupo até uma ruptura, nos anos 1980 – quando Freddie parte para álbuns-solo – e um emocionante reencontro no palco, no show Live Aid, em 1985.
Evidentemente, há simplificações de alguns episódios na vida do grupo e até algumas licenças poéticas, perdoáveis dentro do contexto de um filme que coloca sua ênfase na paixão de um personagem extremamente sensível e não raro frágil e solitário – o que explica sua longa ligação com Mary, que foi sua herdeira quando ele morreu de AIDS, em 1991.
De tudo ficará a interpretação inebriante de Malek, que usa sua figura frágil com impressionante energia e não faz feio ao recriar o desempenho do cultuado verdadeiro ícone pop no palco.