Dirigido por Rafa Lara, Jesus de Nazaré - O filho de Deus não é uma versão condensada de uma telenovela da Record, mas parece. O longa começa com Jesus (o modelo e ator argentino Julián Gil) sendo batizado por João Batista (Mario Cimarro), e depois seguindo para o deserto, onde será tentado por Satanás. E assim segue com algo como "Os maiores hits de Jesus" até a crucificação e ressureição, incluindo os 40 dias e as 40 noites no deserto, o episódio com Lázaro, o apedrejamento de uma adúltera e a expulsão dos comerciantes do templo.
É claramente uma produção de orçamento polpudo, fotografia caprichada – assinada por Jordi Planell – e belas locações em Almería (Espanha), mas nada disso salva do purgatório esse filme genérico, incapaz de transformar a jornada de Jesus numa narrativa coesa. Entre diversas cenas, existe a voz de um narrador (um recurso pobre em termos de cinema) explicando o que está acontecendo, pois a trama tem tantas elipses entre um episódio e outro que é preciso. No filme, o Brasil é representado por Sergio Marone, para quem narrativas bíblicas não são novidade, participando aqui como Pôncio Pilatos.
A vida de Jesus sempre fascinou o cinema e, de tempos em tempos, no Natal e na Páscoa, surgem filmes de maior ou menor repercussão sobre ele. Claramente, os melhores, que se destacam no gênero, são aqueles dotados de uma visão mais humanista e menos religiosa – como A última tentação de Cristo, de Martin Scorsese; O evangelho segundo São Mateus, de Pier Paolo Pasolini; e a ópera pop Jesus Cristo Superstar, de Norman Jewison. Aqui, Lara não evita a armadilha de cair em proselitismo religioso, pelo contrário, ele sabe muito bem que está pregando para os convertidos, literalmente, e fieis de nascimento. Isso, no entanto, não impede que os personagens pareçam saídos de um ensaio de moda da Vogue. Jesus passa 40 dias no deserto, mas nem um grão de areia fica em sua roupa ou nas belas madeixas. Eis aqui um verdadeiro milagre.