08/09/2024
Histórico Drama Comédia

Jojo Rabbit

Johannes vive na Alemanha nazista com sua mãe, Rosie, à espera do pai que está na guerra. Desajeitado, ele é maltratado pelos meninos mais velhos e mais fortes. Em suas fantasias, imagina Hitler como seu amigo imaginário.

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Num primeiro momento, Jojo Rabbit pode parecer um filme transgressor, uma sátira política situada nos últimos dias da Alemanha nazista, escrachando com Hitler. Pode, também, parecer um comentário sobre a cegueira política de nosso tempo. Não são mesmo poucas as aspirações para o filme do neo-zelandês Taika Waititi (Thor: Ragnarok), mas cada uma se revela mais fora de lugar do que a outra.
 
Livremente inspirado no romance O céu que nos oprime, de Christine Leunens, Jojo Rabbit é como se Wes Anderson fizesse um filme ruim situado no Terceiro Reich. Todos aqueles tons pastel, a atmosfera melancolicamente lúdica, as crianças precoces, mas incapazes de superar sua ingenuidade, entre outras coisas. Mas os objetivos aqui são outros. Mas a troco de quê? As intenções de Waititi são bastante claras, de ridicularizar Hitler (interpretado por ele mesmo) e todos aqueles que ainda o apoiavam, mesmo com a derrocada gritante e iminente.
 
Johannes (Roman Griffin Davis) é uma criança desajeitada que vive com a mãe, Rosie (Scarlett Johansson), numa cidade pequena da Alemanha, enquanto o pai está no front de batalha. Ele é uma dessas pessoas que creem piamente no regime nazista, culpa de sua inocência juvenil. Num espécie de acampamento de férias para criancinhas nazistas, ele irá passar por grandes provações e provocações e se sair mal, rendendo-lhe cicatrizes no rosto, uma perna manca e o apelido Jojo Rabbit (referente a coelho, um bichinho medroso).
 
Em casa, as coisas são diferentes. A mãe é totalmente contrária ao nazismo, embora, é claro, precise fingir que apoia Hitler e tudo mais. A ausência de uma figura paterna em cena leva pequeno Jojo a criar o amigo imaginário – uma versão bufa do führer, que aparece de uma forma estupidamente infantilizada e atende pelo nome de Adolph. O efeito cômico é evidente, mas também cansativo, uma vez que não sai disso ao longo do filme inteiro. Pode parecer algo arriscado, mas Waititi está jogando para a plateia e sabe exatamente como fazer rir, como fazer chorar e como fazer ter ódio dos nazistas (para isso nem precisa se esforçar muito).
 
Depois do acidente com o garoto, sem ter outra opção, enquanto trabalha, Rosie deixa Jojo numa repartição militar, aos cuidados do capitão Klenzendor (Sam Rockwell, como sempre excelente), um dos responsáveis pelo acidente do menino. O cenário é, novamente, uma desculpa para Waititi ridicularizar o que é facilmente ridicularizável, como na relação dúbia do militar com seu subalterno (Alfie Allen) ou na figura da assistente (Rebel Wilson), como uma estereotipada versão de uma Fräulein.
 
Jojo é o herói do filme, e este é sobre a jornada dele e sua transformação vem quando descobre em casa uma garota judia, Elsa (Thomasin McKenzie), a quem a mãe esconde. O encontro é por acaso, e resultado tenso: o menino não pode denunciá-la à SS, pois isso também implicaria na prisão de sua mãe. O filme não está muito interessado em lidar com esse dilema moral e tudo se resolve de maneira simples e previsível: o garoto não só a protege, como também desenvolve uma paixão platônica pela “inimiga”.
 
As conversas entre Jojo e Elsa, quando Rosie não está em casa, tendem a transformar o nazismo apenas numa moda passageira que não era legal, ou seja, algo quase inofensivo, destituindo o filme dos horrores de uma guerra. Interessado em efeitos cômicos e lágrimas baratas, Waititi joga de lado a complexidade e implicação política do período em favor de algo questionável à lá, digamos, O menino do pijama listrado ou A vida é bela. Jojo Rabbit é um filme desesperado para agradar quando deveria questionar as ideologias. O diretor, afinal, se saiu bem em seu propósito – tanto que, além de ganhar prêmio de público em Toronto, recebeu seis indicações ao Oscar, vencendo apenas na categoria melhor roteiro adaptado.
 
Curiosamente, tudo o que falta ao longa, está na interpretação de Johansson – merecidamente indicada ao Oscar. Rosie é uma personagem complexa, repleta de nuances, que precisa dançar conforme a música fora de casa para sobreviver. Só no interior de seu lar pode ser sincera consigo mesma – mas não muito: seu filho é um membro devotado da juventude hitlerista, e nem a ele ela pode revelar suas verdadeiras crenças. Rosie não faz isso apenas por medo do garoto, é óbvio, mas também com a intenção de o proteger. A atuação de Scarlett gera um desconforto necessário dentro de um filme que, equivocadamente, quer ser fofo. 
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