25/04/2025
Guerra Drama

A guerra de Anna

Na URSS ocupada pelos nazistas, a menina Anna, de 6 anos, sobrevive ao massacre de sua família. Ela é entregue ao comando alemão, que funciona numa escola bombardeada. Mas escapa dos soldados e se esconde numa lareira desativada. A partir de agora, seu desafio é encontrar água, comida e não ser vista.

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É no minimalismo que reforça a ênfase a aposta do diretor russo Aleksey Fedorchenko em A Guerra de Anna, um drama de foco fechado na batalha pela sobrevivência de uma solitária menininha de 6 anos, Anna (a ótima estreante Marta Kozlova). 
 
A garota é a única sobrevivente de um massacre de judeus, na URSS ocupada pelos nazistas, em novembro de 1941. A cena inicial é impactante, quando a câmera percorre, do alto, a visão de alguns corpos semi-enterrados entre terra, neve e folhagens. Dali emerge a menina, livrando-se do braço da mãe, que provavelmente evitou a morte da filha protegendo-a com seu próprio corpo. Daí em diante, Anna está por si mesma.
 
Ela encontra uma primeira ajuda de uma família de velhos camponeses, mas não é duradoura. Temendo ser perseguidos, eles a entregam ao comando improvisado dos alemães, que funciona num grande edifício escolar bombardeado. Mas a menina é esperta, escapando de seus captores para um esconderijo que será, dali em diante sua morada: o alto de uma lareira desativada.
 
Amparada na fotografia naturalista de Alisher Khamidkhodzhaev e no desenho de som de Vincent Arnardi, a narrativa da permanência de Anna neste prédio em escombros é sustentada, segura, impressionante - repleta de ruídos, já que não ouviremos a voz da menina, que evita contatos humanos na casa de dia habitada por soldados nazistas, seus colaboradores e pessoas em busca de autorizações e favores. 
 
Um recurso interessante é assistir ao funcionamento da casa pelos olhos de Anna, que espia os ocupantes por um buraco na parede, atrás de um espelho. Daí surgem imagens que dão conta de sordidez e violência, de um mundo em desmonte. À noite, Anna percorre as amplas salas, escadas e corredores do prédio, em busca de comida, água e objetos que se tornam seus brinquedos. Sua única companhia eventual é um gato amarelo.

A força do filme do experiente Fedorchenko - diretor do excelente Almas Silenciosas (2010) - reside justamente na sutileza de seus não-ditos, neste cavar na sensibilidade do espectador para habitar, junto com Anna, aquele exíguo espaço sobre a lareira, compartilhando sua aflição, seu confinamento e a escassez de perspectivas. O que ela pode aprender nesta situação? Isto pode ser chamado de vida? O sofrimento e a solidão, estampados em seu rosto e seu corpinho frágil, combinam-se, no entanto, a um olhar intenso, que evoca uma energia que procura a todo custo não se render. Por tudo isso, A Guerra de Anna torna-se um filme para assistir com o coração aos pulos. 

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