A série Nós (composta de 6 episódios de cerca de 20 minutos cada) talvez seja a produção televisiva brasileira com mais pessoas transexuais no seu elenco: Maria Léo Araruna, Renata Carvalho, Fábia Mirassos e Bernardo de Assis. Mas não é nenhuma surpresa, afinal seu tema é a fluidez de gênero, discutida com muita honestidade e sinceridade aqui.
Romeu (Ferando Eiras) é um psicanalista e patriarca de uma família nada convencional. Sua mulher é Lúcia (Mirassos), uma advogada que trabalha especialmente com transexuais. A filha adotiva do casal é Manu (Araruna), uma jovem estudante de matemática brilhante, que foi expulsa de casa quando seus pais biológicos descobriram que era trans, e acabou adotada pelo casal.
A série abre com um questionamento de Lúcia que, como explica, é “passável”, ou seja, pode passar-se por mulher sem que ninguém desconfie de sua transição. “Sou passável, mas ninguém sabe o que passei”, conclui ela. A trama envolve a discussão dos papeis de gênero e de identidade a partir disso. Romeu gosta de usar roupas de mulher, mas faz isso à noite, enquanto sua mulher dorme. Apenas Manu sabe da verdade. A jovem estudante é preterida numa bolsa de pós-graduação por se transexual e também faz programas esporádicos escondida dos pais.
Criada por David França Mendes e Rodrigo Ferrari, Nós aborda temas complexos de maneira acessível exatamente por colocar suas personagens com vidas comuns. Suas identidades são parte deles e delas, mas não a única coisa que os e as define. O grande mérito da série está nisso, em desmistificar as questões de gênero e introduzi-las em dramas com os quais todos podem identificar-se sem que com isso as personagens percam sua subjetividade.
