Não houve politicamente correto que derrubasse a afeição despertada no público pela dupla Tom e Jerry em seus 81 anos de existência. O gato e o rato que vivem se enfrentando a tapa ou com o que mais estiver à mão encaram uma repaginada em Tom & Jerry: o filme, de Tim Story, que recorre à mistura animação e live action para compor uma aventura que busca fisgar não só crianças, naquele modelo de filme genérico que se considera “para toda a família”.
Os adoráveis rivais estarão no caminho de Kayla (Chloë Grace Moretz), jovem desempregada que, por um lance de sorte, consegue um emprego na coordenação de eventos de um hotel de luxo. Mas ninguém pode esperar ter sucesso num ambiente desses, ainda mais com um rato à vista bem agora, que o hotel vai sediar um casamento de ricos e famosos, o casal Preeta (Pallavi Sharda) e Ben (Colin Jost). Mais hora, menos hora, Kayla vai requisitar os serviços de Tom, com todas as possibilidades de desastre e destruição previsíveis.
Como em todo filme que une animação e live action, há um certo descompasso entre os dois, especialmente porque o universo cartunesco de Tom e Jerry é, apesar das brigas, um tanto ingênuo e simples, no fundo. Por isso, os efeitos de suas confusões, quando sobrepostos ao live action, nem sempre são harmoniosos. Lances envolvendo elefantes e aves - todos animados - na sequência da festa de casamento também parecem um tanto exagerados.
Os personagens humanos, em geral, não despertam simpatia. Exceção feita a Kayla, mas que, dentro do figurino estreito proposto pelo roteiro, não deixa muito mais do que caras e bocas à disposição do boa atriz Chloë Moretz. No papel de Terence, o coordenador desalojado pela jovem, Michael Peña não seduz como o vilão despeitado à vista. E o casal no centro do evento, Ben e Preeta, é de uma superficialidade que não rende humor propriamente dito, que é o que fica faltando à história escrita por Kevin Costello, afinal de contas.
Os bons momentos acontecem quando o filme resgata o velho encanto dos personagens criados por William Hanna e Joseph Barbera - caso da composição da suíte de Jerry num buraco da parede do hotel ou da super-armadilha de Tom para capturar o ratinho. Talvez tivesse sido melhor ficar com uma animação tradicional mesmo, como foi feito no último filme com o personagens, que tem o mesmo nome deste, de 1992.