24/04/2025
Policial Drama

Crime em Roubaix

O capitão Daoud é policial introspectivo que se depara com um crime mais complicado do que aparentava. Sua investigação o leva a caminhos inesperados na cidade de Roubaix, marcada pela pobreza e a marginalidade.

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De certa forma, em Crime em Roubaix, o cineasta francês Arnaud Desplechin se afasta do estilo registrado em seus filmes mais recentes, como Reis e Rainha, Conto de Natal e Os Fantasmas de Ismael. Formalmente, sua incursão no gênero policial é um filme mais comportado, o que deverá frustrar as expectativas de quem espera seu requinte estético e narrativo. Talvez, por isso mesmo, seja sua obra mais convencional.
 
Distanciando-se dos movimentos de câmera e voz narrativa tão comuns em sua obra, aqui, o diretor faz um filme de procedimento policial sem grande esforço para desviar-se das convenções do gênero. Ajuda o fato de ter dois excelentes intérpretes nos papeis centrais: Roschdy Zem (ganhador do César de melhor ator em 2020 por esse trabalho) e Léa Seydoux (bem, mas mal aproveitada aqui). O cenário é a cidade natal do diretor, Roubaix, e ao centro da trama, um crime. O roteiro, assinado por Desplechin e Léa Mysius, baseia-se num documentário de Mosco Boucault sobre a polícia da cidade.
 
A fotografia de Irina Lubtchansky é um dos melhores elementos do filme, que, com seu jogo de chiaroscuro, faz parecer um filme noir, o que Crime em Roubaix não é, na verdade. Ao contrário de seus filmes mais conhecidos, o diretor deixa de lado as figuras da classe média alta para entrar no mundo de personagens marginalizados da classe trabalhadora, que entram em contato com a polícia da cidade, tendo como figura central o taciturno capitão Daoud (Zem). Como é comum no gênero, um novato entra em cena e será os olhos que guiam o público. Trata-se de Louis (Antoine Reinartz).
 
Frases ditas por ele, como “Roubaix é uma das cidades mais pobres da França”, ajudam a situar o que está em jogo. Ao centro do filme há um crime que aconteceu no local em 2002, no qual Claude (Seydoux) e sua namorada, Marie (Sara Forestier) foram testemunhas-chave de um incêndio numa casa modesta vizinha delas. O caso, no entanto, se revela mais complexo do aparenta e domina o filme.
 
Revelam-se mais interessantes os olhares sobre uma cidade tão castigada pela pobreza como Roubaix. São detalhes que trazem textura ao filme, embora pouco alinhados diretamente à trama central. Em Crime em Roubaix, Desplechin pisa num terreno que não parece confortável. Tenta se encontrar, bem como um estilo que combine elementos seus e típicos do gênero, mas não consegue. Ao final, sensação que fica é de que ninguém está muito satisfeito com o que veio antes.
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