24/04/2025
Policial

O Destino Bate à Porta

Cora tem um casamento infeliz, sendo explorada no restaurante do marido, onde trabalha. A chegada de um desconhecido faz surgir o plano perfeito para melhorar sua vida.

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A versão de 1946 de O Destino Bate à Sua Porta não foi a primeira (nem a última, é bom lembrar) adaptação do romance homônimo de James M. Cain, mas é a mais influente. Antes dela, o espanhol Pierre Chenal fez Paixão Criminosa (1939), e depois, o italiano Luchino Visconti, Obsessão (1943). Mas é a versão americana, assinada por Tay Garnett, que se estabeleceu como a definitiva – apesar da nova filmagem, de 1981, protagonizada por Jack Nicholson e Jessica Lange.
 
A história talvez seja tão simples que, com alguma variação, foi vista em diversos filmes. Uma mulher bonita e entediada se apaixona por um sujeito sem qualquer perspectiva de futuro e, com ele, trama o assassinato de seu marido. Até o brasileiro Porto das Caixas, de Paulo Cesar Saraceni, com roteiro de Lúcio Cardoso, tem semelhança com essa trama, mas, claro, com seus diferenciais e especificidades.
 
Aqui, a femme fatale é interpretada por Lana Turner e chamada Cora, que seduz Frank (John Garfield), para que mate seu marido Nick (Cecil Kellaway). É um tema que causou espanto na época, e, embora hoje não impressione tanto, o filme ainda permanece poderoso. Os personagens, à luz do século XXI, podem soar pouco ambiciosos. Não há grande fortunas em disputa, apenas uma mulher querendo abrir seu próprio restaurante. No fundo, o que ela realmente procura é liberdade.
 
Cora, com seus planos, não deixa de ser uma espécie de vilã, mas o filme a cobre de nuances suficientes para fugir de esquematismos – embora, à época do lançamento, a personagem tenha sido bastante controversa. Garnett e Turner jogam com os clichês da época, subvertendo-os. A protagonista se veste bem e com roupas tidas como respeitáveis – ao contrário do que se era comum no momento.
 
O roteiro, assinado por Harry Ruskin e Niven Busch, é bastante fiel ao romance original, trazendo o clima de submundo tão comum às obras de Cain. O subtexto, aqui, vai muito além da mera trama romântica, e lida mais com a exploração e opressão. Cora é quem mais trabalha no restaurante do marido mas, por seu trabalho, pouco recebe. Ele é o dono de tudo.
 
Ao contar a história do ponto de vista do casal de amantes, Garnett tenta trazer simpatia a eles. De qualquer forma, a censura vigente dos anos de 1940 impunha a um filme como O Destino bate à sua porta uma resolução que se acomodasse à moral da época. Ainda assim, o diretor encontrou espaço para, novamente, subverter a ordem, introduzindo algumas reviravoltas que garantem complexidade ao filme.
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