Patrick Hill é o mais novo funcionário da Fortico, empresa de transporte de valores de Los Angeles que acaba de perder dois empregados no assalto a um de seus carros-fortes. Caladão e com cara de poucos amigos, Hill logo impressiona seus patrões por sua coragem e mira impecável durante um assalto. Mas ele esconde um plano.
- Por Neusa Barbosa
- 25/08/2021
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Jason Statham é o tipo do anti-herói de muitos tiros - no alvo - e pouca conversa no eletrizante thriller de ação Infiltrado, em que o diretor Guy Ritchie entrega o que promete a quem procura diversão com alta voltagem de adrenalina.
Adaptando o roteiro do policial francês Assalto ao Carro-Forte, de Nicholas Boukhrief (2004), Ritchie aproveita-se mais uma vez do semblante indecifrável de Statham para interpretar seu protagonista, Patrick Hill. Um homem sobre cujo passado nada se sabe e se duvida até do nome.
Hill apresenta-se para trabalhar como motorista de uma empresa de carros-fortes em Los Angeles, a Fortico, cujo ambiente está abalado por uma tragédia recente - um de seus carros foi atacado e dois antigos funcionários foram assassinados.
Bem no estilo de Ritchie, esse incidente será dissecado por vários ângulos, um dos muitos trunfos da montagem competente de James Herbert, permitindo, a cada revisita, que se absorva um detalhe para entender o que está por trás da situação.
Enquanto isso, Hill passa raspando no teste para o trabalho na Fortico, o que não impede a camaradagem do supervisor, “Bala” (Holt McCallany). Mas o novato não é mesmo de conversas nem de fazer amigos, ganhando do chefe Teddy (Eddie Marsan) a descrição de “frio como um réptil” - a que ele faz jus especialmente quando reage a um assalto no carro-forte em que ele faz sua viagem inaugural, ao lado do inseguro “Suadinho” (Josh Hartnett).
A habilidade do diretor está em tirar o máximo partido do sangue-frio de Hill que, caso o filme fosse por outras direções, poderia até passar por um mero assassino psicopata. Se é verdade que a cara de pedra do protagonista não inspira propriamente simpatia, a coragem com que ele se põe em risco diante de notórios malfeitores faz ao menos suspender um julgamento final.
Sua meticulosidade sugere que ele é um homem com um plano e que procura alvos bem específicos. A missão da história é mantê-lo no foco e ir apresentando, no ritmo, os demais personagens que justificam tanta dedicação sem trégua. Ao saber seus motivos, pode-se descobrir que por trás desta cara amarrada também bate um coração e que ele está cheio de dor e culpa. Mais não se diga a respeito.
Retratando um ambiente quase exclusivamente masculino, é de se imaginar comentários eventualmente sexistas, tendo à vista apenas uma mulher, Dana (Niamh Algar), como funcionária dos carros-fortes. Mas algumas vezes o tom machista escapa do controle e se torna francamente desnecessário.
A sequência final, envolvendo um grande golpe e muitas reviravoltas, é de se tirar o chapéu, com suas variações de ângulos de câmera, escapadas, tiroteios e solavancos. Ao final da jornada, Ritchie quer que o espectador se sinta tão cansado quanto os poucos sobreviventes, nenhum deles ileso. O universo do diretor de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998, em que lançou a carreira de Statham), Snatch: Porcos e Diamantes (2000) e Revólver (2008) é sombrio e não tem espaço para heróis.