Diretora de estilo vigoroso, a inglesa Andrea Arnold afasta-se de seus dramas marcantes, como Marcas da Vida (2006), Aquário (2009) e O Morro dos Ventos Uivantes (2011), para mergulhar num documentário minimalista mas não menos inquietante do que suas ficções anteriores.
A construção visual, como fotografia de Magda Kowalcyzk, e o desenho de som, assinados por Raphael Sohier e Carolina Santana, garantem uma potência impressionante ao relato, que basicamente acompanha o cotidiano de uma vaca leiteira, Luma, numa fazenda no interior da Inglaterra. Há claramente uma tentativa de enxergar a vida pelo ponto de vista de Luma, com closes sensíveis de seus olhos em vários momentos da narrativa, que permitem compartilhar o fardo desta incansável trabalhadora para o bem-estar humano.
Sem entrevistas ou narrações, o filme basicamente segue a jornada de Luma, por muito tempo confinada com outras vacas num grande estábulo industrial, produzindo leite e bezerros. Se forem vacas, seguirão seu mesmo destino.
Ao optar por este estilo documental sem intervenções, seguindo o fluxo de seu tema, o que o filme propõe é que os espectadores reflitam sobre a super-exploração destes corpos animais, tornando-se basicamente objetos a serviço dos interesses humanos sem que o seu bem-estar, num sentido mais profundo, seja levado em conta. Eles não são vistos como indivíduos portadores de sentimentos ou direitos dentro da perspectiva capitalista e isso se torna verdadeiramente incômodo para quem tiver um mínimo de consciência e sensibilidade diante dos animais, estes seres vivos com quem dividimos de forma tão desigual a existência sobre este planeta.