Primeira protagonista de cinema da cantora Gaby Amarantos, Kelly é uma cantora de forró eletrônico que viaja pelo sertão nordestino, fazendo shows em pequenas espeluncas. Mas, por onde passa, deixa cadáveres. Serial Kelly, o primeiro longa de Renê Guerra, é uma comédia alucinada que, de forma transgressora, retrata sua protagonista como uma serial killer empoderada.
Fosse um drama sério, talvez o filme se tornasse alvo de cancelamento, ao colocar uma mulher forte como assassina. Mas a inventividade do roteiro, assinado por Guerra e Marcelo Caetano, está exatamente em não levar isso a sério, e apontar que, fosse a protagonista um homem, ela seria cultuada como matador. Nesse sentido, o filme é bem singular ao expor algumas características da sociedade brasileira.
Em contrapartida, há também uma investigadora na cola da assassina, interpretada por Paula Cohen. Assim, o filme coloca em cena, duas mulheres em personagens tipicamente masculinos. Kelly é dona de si mesma, especialmente de seus desejos sexuais, e uma estrela em ascensão, ainda que seja apenas no seu pequeno mundo.
A fotografia vibrante de Pedro Urano ressalta as paisagens naturais do trajeto de Kelly com o artificialismo da luz dos inferninhos onde ela se apresenta – e esse é um dos pontos altos do filme, assim como Amarantos, no palco, que obviamente é o seu métier. Ainda assim, falta ao filme uma liga, algo que concatene melhor suas ideias e estética, que, às vezes, parecem diluídas demais.