Isabelle Huppert como uma prefeita idônea que, tentada pelas ambições do poder, também procura manter-se firme em seus princípios? Onde está a urna para votar nessa mulher? A questão central no drama político Belas Promessas, de Thomas Kruithof, é exatamente a integridade dos valores dentro do jogo político.
Huppert interpreta Clémence, prefeita de uma cidade nos arredores de Paris que vive em crise constante. O mais urgente de seus problemas é um conjunto de apartamentos populares, Les Bernardins, que está ruindo e necessitando de uma reforma urgente. Com uma deputada de seu partido, Naidra (Naidra Ayadi), e seu chefe de gabinete, Yazid (Reda Kateb), a protagonista tenta desesperadamente conseguir os fundos para arrumar o prédio.
As coisas se complicaram pois Michel Kupka (Jean-Paul Bordes), um dos moradores do local, escreveu uma carta detalhando os problemas e apontando a incompetência de Clémence em resolvê-los, que foi enviada a Jérôme Narvaux (Laurent Poitrenaux), um secretário responsável por propor ao primeiro-ministro o plano de recuperação. O roteiro, escrito por Kruithof e Jean-Baptiste Delafon, não facilitará em nada essa descida ao inferno.
Para surpresa de muitos, Clémence, uma ex-médica que atua na política há 12 anos, não irá se candidatar à reeleição. Assim, seus atos são realmente com o interesse de resolver o problema, não há nada de populista. Inclusive, ela já indicou Naidra como sua sucessora. Porém, as coisas mudam de figura quando a nada ambiciosa prefeita fica sabendo que seu nome é cogitado para uma posição ministerial em Paris.
Cada vez mais isolada, até pelas pessoas mais próximas, Clémence entra num dilema: como se manter fiel aos seus princípios, quando uma tentação tão grande bate à porta? Se, no começo, ela é uma política idealista, com o tempo, o poder começa a corrompê-la. Talvez nenhuma outra atriz atualmente fosse capaz de levar à tela com tanta sutileza e verossimilhança a transformação da personagem.
Quem mais se surpreende com a mudança é Yazid, uma figura próxima à prefeita. Ao contrário dela, ele nunca teve uma imagem do jogo político como algo honesto. Nascido pobre, ele traçou seu caminho com muito trabalho e esforço, e conhece por experiência uma realidade que, para Clémence, se torna uma oportunidade política. As interações entre Huppert e Kateb, outro grande ator, são algumas das melhores cenas. A mudança na dinâmica entre os personagens vai de uma relação de confiança e aprendizado a uma disputa.
Em meio a todas essas intrigas de gabinete, Belas Promessas também traz a política da vida real, aquela que afeta diretamente a vida das pessoas que moram no Les Bernardins. A ligação entre os dois planos – como o pessoal se torna político, e, às vezes, até se chocam – é central aqui, e Kruithof a explora de maneira sagaz e incisiva.
