O renomado detetive Hercule Poirot está desfrutando de uma bucólica aposentadoria em Veneza quando recebe a visita de sua amiga escritora, Ariadne Oliver. Ela o convence a comparecer a uma sessão espírita e ele vai a contragosto, pensando que irá desmascarar um truque. No entanto, algo estranho acontece e uma pessoa é assassinada.
- Por Neusa Barbosa
- 11/09/2023
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Kenneth Branagh entra mais uma vez na pele e no bigodão do detetive belga Hercule Poirot para colocar na tela uma nova adaptação de Agatha Christie, A noite das bruxas, que investe muito (quem sabe demais) num toque sobrenatural.
O roteiro, mais uma vez assinado por Michael Green, parte de um conto da escritora, Halloween’s Party (1969), remetendo ao Dia das Bruxas em que toda a trama se desenvolve.
O cenário é a Veneza de 1947, cidade escolhida por Poirot para desfrutar de sua aposentadoria. Mas ele é tão assediado por candidatos a clientes que resolve contratar um ex-policial, Vitale (Riccardo Scamarcio), para não ser perturbado. O que evidentemente não funciona sempre. Uma velha amiga do detetive, a escritora policial Ariadne Oliver (Tina Fey), fura o cerco para convidar o amigo a participar de um programa inusitado - uma sessão espírita. Ateu e incrédulo de toda forma de misticismo, Poirot resiste o quanto pode. Mas afinal tem sua curiosidade atiçada também pelo desafio de desmascarar o que acredita ser mais uma picaretagem.
Ariadne, no entanto, tem total confiança na médium sra. Reynolds (Michelle Yeoh), que vai conduzir uma sessão num grande palazzo veneziano, habitado por uma cantora de ópera, Rowena Drake (Kelly Reilly), cuja jovem filha, Alicia (Rowan Robinson), se suicidou.
O ambiente claustrofóbico comum às histórias de Christie mais uma vez se manifesta neste casarão antigo que guarda histórias de um passado sinistro, quando funcionava como um orfanato e onde teria acontecido uma tragédia. Assim que a sessão começa, fica evidente que há algo estranho no ar, ainda que Poirot continue cético e achando que é armação. E, quando um dos convidados é assassinado, o detetive não pode furtar-se a recomeçar a trabalhar, fechando as portas da mansão para que ninguém deixe o lugar, porque todos são suspeitos.
A racionalidade estrita do detetive é posta à prova de uma maneira incomum, já que seus próprios sentidos parecem estar enganando-o. Ele vê e ouve coisas que, a rigor, não poderiam existir - e o único que parece compartilhar das mesmas percepções é um menino, Leopold (o ótimo Jude Hill, que estreou em outro filme de Branagh, Belfast). Filho de um atormentado médico, o dr. Ferrier (Jamie Dornan), o menino parece uma ilha de contenção e bom senso num ambiente em que todos os adultos parecem estar perdendo o controle.
A história investe muito nesse clima de aparente loucura, a ponto de, num determinado momento, esse rumo se mostrar tedioso e sem saída, enquanto outros cadáveres vão aparecendo.
O resultado, afinal, é um tanto insatisfatório, apesar das qualidades de produção. Histórias envolvendo fantasmas requerem uma certa ambiguidade que o diretor não alcançou devidamente. E fica uma sensação de oportunidades perdidas, como o não-aproveitamento do potencial cômico de Tina Fey.