Conhecido pelo poético O Cheiro da Papaia Verde (1993), vencedor do prêmio Caméra d’Or no Festival de Cannes, o cineasta vietnamita Tran Anh Hung oferece um deleite para os sentidos com a produção francesa O Sabor da Vida, que lhe deu o prêmio de direção em Cannes 2023. Juliette Binoche e Benoît Magimel interpretam os protagonistas, um casal unido pela culinária no século XIX. Ela é Eugénie, sua cozinheira e também amante que recusa o casamento, apesar da insistência dele, Dodin Bouffant. No belíssimo castelo dele, em Anjou, eles se empenham em seus duelos gastronômicos, produzindo banquetes para um seleto círculo de amigos.
Adaptando um romance dos anos 1920, de Marcel Rouff, o cineasta compõe um filme que aposta decididamente no apuro visual destes pratos que se sucedem à mesa, consumidos por estes gourmets apaixonados, que parecem fazer destes acepipes uma razão de viver.
Evidentemente, salta aos olhos todo o sentido metafórico nesta fruição de sabores e também neste jogo entre Eugénie e Dodin, duas pessoas maduras, como eles mesmo dizem, vivendo o outono da vida - mas, dentro de Eugénie, vive uma paixão que ela compara a um verão permanente.
Mas permanente mesmo só esse desfile de pratos requintados em seu preparo, numa espécie de “festa de Babette” constante - evocando mais este delicado filme de 1987, de Gabriel Axel, do que outros girando em torno de comida, como o impactante A Comilança, de Marco Ferreri.
De todo modo, Anh Hung consegue criar uma atmosfera iluminada em torno destes dois atores fazendo seu jogo com maestria, com uma fotografia (Jonathan Ricquebourg) e desenho de produção (Toma Baqueni) que sustentam todo o projeto de maneira envolvente. Mais do que nos diálogos, não raro escassos, o filme aposta na magia das sensações visuais. E é tão eficiente nisso que dá quase para sentir os cheiros dessa cozinha que produz tantos prazeres compartilhados.