05/05/2024
Comédia

Clube Zero

Uma escola de alto padrão contrata uma nova professora, a srta Novak, para implantar um programa de alimentação consciente. Mas as ideias da professora são um tanto radicais, influenciando seus alunos adolescentes num ramo cada vez mais perigoso.

post-ex_7

Concorrente à Palma de Ouro em Cannes em 2023, o drama austríaco Clube Zero, de Jessica Hausner, impacta num sentido vagamente sinistro. A diretora havia participado de Cannes cinco anos antes com outro filme de clima bizarro, Little Joe, abordando a estranha ligação entre uma mulher (Emily Beecham, prêmio de melhor atriz) e uma planta com capacidades especiais, desenvolvida em laboratório. 

Adepta desses universos exóticos, neste filme mais recente a diretora cria um clima de estranhamento num internato juvenil de alto padrão com a chegada de uma nova professora, a srta. Novak (Mia Wasikowska), que vem implantar um programa de Alimentação Consciente. A partir do combate a maus hábitos alimentares e ao consumismo, a professora, no entanto, guia seus alunos adolescentes cada vez mais rumo ao jejum - porque sustenta que seria possível sobreviver sem o consumo de qualquer alimento.

Evidentemente, trata-se de uma sátira sinistra, que injeta críticas até muito pertinentes sobre o tema da alimentação e também sobre como tantos pais de alto padrão econômico terceirizam o cuidado de seus filhos, entregando-os a um sistema educacional que os prive da responsabilidade por eles. Mas, num verdadeiro samba de uma nota só, a diretora/roteirista não sai do seu pressuposto inicial, não avança para nenhum outro lugar do que o estabelecimento deste relacionamento vicioso entre a professora e seus alunos, diante de tentativas fracassadas dos pais de, finalmente, interferir no processo. 

Essa falta de um desenvolvimento satisfatório na conclusão da história - que também havia se dado em seu filme anterior - provoca uma imensa frustração com um tema tão promissor. Jessica Hausner parece ter se contentado em estabelecer o clima de mal-estar e não se arriscado a nenhum outro posicionamento - sem deixar, na verdade, tanto espaço assim a que o espectador coloque suas próprias ideias. Nesse contexto, Clube Zero é um filme destinado a incomodar, e nada além disso.

post