Vencedor de um Oscar em 2001 por Gladiador, recentemente Russell Crowe parece ter embarcado numa fase da carreira em que não se esforça para sair do piloto automático. É o que acontece no policial A Teia, em que interpreta o policial Roy Freeman.
Aposentado depois de um acidente em que dirigia bêbado, Roy vive sozinho numa casa com as paredes recobertas de post-its, que identificam o nome de tudo e até dele mesmo. Roy sofre de Alzheimer e acaba de submeter-se a uma operação experimental que pode ajudá-lo a superar o problema.
Neste vazio de memórias, ele é procurado pela representante de uma ONG de direitos humanos, que pede sua intervenção no caso de um homem, Isaac Samuel (Pacharo Mazembe), condenado à morte. Anos atrás, Roy participou da investigação de um brutal assassinato, do professor universitário Joseph Wieder (Marton Csokas), e Samuel foi considerado culpado. Mas ficou algo pendente.
Curioso, ele revê seus arquivos do caso e vai visitar Isaac na prisão, decidindo procurar pistas da versão apresentada pelo homem, que na época confessou o crime mas agora se diz inocente e dá novos detalhes. A partir daí, Roy procura seu antigo parceiro, também aposentado, Jimmy Remis (Tommy Flanagan), resolvendo dar algum trabalho à sua mente, como aconselha sua médica, apostando que uma atividade pode ajudá-lo a recuperar suas memórias.
Crowe, no passado, revelou-se plenamente capaz de ser um ator sutil, como demonstrou em Uma Mente Brilhante (2001) e, mais ainda, em seu começo de carreira na Austrália, onde protagonizou o delicado A Prova (1991), de Jocelyn Moorhouse. A maturidade impõe mudanças de rumo, é certo, mas Crowe parece não estar muito motivado em filmes como A Teia, que marca a estreia do roteirista Adam Cooper (Assassin’s Creed) na direção.
Não é que este filme seja tão ruim como O Exorcista do Papa (2023), em que Crowe parecia realmente ter flertado com o trash e dado razão ao jornalista Stuart Heritage, do The Guardian, que disse que ele caminhava para tornar-se um novo Nicolas Cage - no sentido de jogar sua carreira para o alto com papéis e interpretações ruins.
Verdade que nem tudo que não funciona a contento em A Teia é responsabilidade de Crowe. A direção de atores parece precária e interpretações como de Karen Gillan, a presumida mulher fatal da história, e Martin Csokas, que aparece em vários flashbacks, também comprometem o resultado, escorregando num tom um tanto maniqueísta. A história, em alguns momentos, embarca em tramas rocambolescas demais, não dando a devida força à conclusão, esta sim impactante.