Nada de novo sob o sol: Twisters, de Lee Isaac Chung (Minari - Em Busca da Felicidade), busca ressuscitar o cinema-catástrofe com seu filme, que revisita o tema explorado por outro título quase idêntico de 1996, o Twister de Jan De Bont. De lá para cá, os efeitos especiais evoluíram bastante, o que deve ser o principal diferencial entre as duas obras, que compartilham a assinatura de Steven Spielberg na produção executiva.
Todos esses anos depois, a fórmula de entretenimento é a mesma: criar um grupo de cientistas e aficionados por furacões, dispostos a literalmente entrar no olho deles por alguma razão, paixão ou loucura mesmo. Outra diferença sendo que, nos anos 2020, as redes sociais certamente terão algo a ver com isto.
Então, do lado da ciência está a protagonista Kate Carter (Daisy Edgar-Jones, da série Normal People), sobrevivente de uma tragédia com seu grupo de jovens pesquisadores, em busca de uma forma de controlar os tornados. Do outro, está Tyler Owens (Glen Powell), um astro do Youtube com seus vídeos caçando furacões. Parece difícil a química entre estes dois mundos, mas finalmente a curiosidade pela mesma coisa mostra seu potencial de fazer a mágica.
Entre os dois, o terceiro elemento é Javi (Anthony Ramos, de Em Um Bairro em Nova York), um remanescente do antigo grupo de Kate que vem resgatá-la de um emprego tedioso no serviço meteorológico para sua recém-criada empresa de pesquisas. A intenção declarada de Javi é criar um dispositivo capaz de prever os furacões e Kate mostra-se sensível à idéia, pensando em ajudar pessoas. Mas logo descobre que há intenções imobiliárias por trás do patrocinador de Javi.
Dilemas éticos são o tipo da coisa que cai bem às heroínas, mesmo que o filme não aspire muito mais do que proporcionar uma série de sequências assustadoramente críveis de furacões e suas consequências - casas e até pessoas arrastadas pelos ares é o mínimo que se vê.Mas esse detalhe, assim como a oportunidade de descobrir que Tyler não é o caubói imbecilizado que parece nas primeiras cenas, contribui enormemente para manter a engrenagem do roteiro, assinado por Mark L. Smith a partir de um argumento de Joseph Kosinski.
Uma boa participação é da veterana Maura Tierney, como Cathy, a mãe de Kate, que proporciona momentos de ternura e humor. A sequência do rodeio sinaliza que aqui se faz um aceno de leve a uma América profunda, no Oklahoma - território assolado por furacões - sem entrar em nenhuma questão polêmica.
O fato de que Kate seja, afinal, uma mulher desejada por dois homens, Tyler e Javi, fica sendo outra ligeira piscada a uma certa modernidade na figura feminina - mas bem ligeira mesmo. Nada a ver com Julie e Jim, de François Truffaut, já que, com tantos furacões, os personagens não têm tempo para uma vida sentimental. Trata-se apenas de entretenimento, e bem esquecível.