Greice (Amandyra) é uma figura intrigante. Desde a primeira cena do filme, o terceiro longa do premiado curta-metragista Leonardo Mouramateus, ela se mostra uma figura cheia de energia, mas também de esquemas, pulando de um desejo a outro, até de um país a outro, deixando atrás de si um rastro de perguntas. Quem é essa moça, podemos tranquilamente perguntar.
Na primeira parte da história, ela é estudante na Escola de Belas Artes de Lisboa, um cenário cheio de estátuas e quadros onde acontece uma festa. Dessa festa surge o incidente que coloca Greice sob suspeita de ter incendiado acidentalmente um quadro - o que motiva uma volta ao Brasil, um fato que Greice esconde da mãe (Luciana Souza). Afinal, o que é tudo isso?
É visível que Mouramateus, que aqui assina o roteiro, cultiva a dedicação pelas referências cinematográficas e pelo passeio nos diferentes gêneros, escondendo pistas e propondo ao espectador um jogo de máscaras - e, numa cena, Greice empunhará mesmo uma máscara real, sugerindo o funcionamento do eterno jogo do teatro, da representação.
Greice representa para todos em seu caminho, seja o namorado português, Afonso (Mauro Soares), que ela enrola apenas para que uma amiga possa realizar seu sonho de mergulhar numa piscina num dia de intoxicante verão. Do contato nasce um relacionamento, mas não é propriamente de romance que este enredo vai se nutrir, e sim muito mais do sutil poder de sedução desta jovem tão bonita e que ostenta um figurino tão variado e vistoso - este, mais um elemento que sugere a representação. Greice quase que desfila pela tela e pela vida dos outros, linda e impávida.
Na volta ao Brasil, em Fortaleza, ela meio que se esconde num hotel, em que os empregados, como Henrique (Dipas), também farão parte do seu séquito de encantados, ainda que nesta parte o humor faça presença mais ostensiva. Discorda desse coro a prima, Márcia (Bruna Pessoa), de cuja ajuda Greice precisa desesperadamente para obter documentos, já que não quer ser vista na casa da mãe, que está viajando e não sabe que ela voltou.
Tudo é assim, meio fluido, sem muita preocupação em consistência dramática. Greice é a pura expressão de uma juventude levada ao sabor do vento, descobrindo vontades, sem se fixar muito nem lá nem cá. Por conta disso, o filme pode resultar um pouco insatisfatório em sua ligeireza, embora pareça ser isso mesmo o que ele se propõe.
O filme teve sua première em Roterdã, em fevereiro, e desde então passou em vários festivais, vencendo o Olhar de Cinema, em junho, nas categorias filme, roteiro e atriz (Amandyra).