Num primeiro momento, Máquina do Tempo parece apenas mais um filme de fitas encontradas por aí – um dispositivo típico do terror, o que não é o caso aqui. Dirigido por Andrew Legge, o longa é uma fantasia sobre a construção da narrativa histórica e o efeito borboleta, segundo o qual uma pequena mudança numa pequena parte de um sistema pode levar a consequências inimagináveis. Se Hitler fosse assassinado e não chegasse ao poder, como estaríamos hoje? Melhor ou pior? Talvez um outro ditador sanguinário tivesse dominado o mundo.
LOLA é a máquina do tempo inventada pelas irmãs órfãs Thomasina (Emma Appleton) e Martha Hanbury (Stefanie Martini), que vivem numa casa de campo em Sussex no começo dos anos de 1940. O objeto intercepta ondas de rádio do futuro, o que permitiu a elas descobrir coisas como David Bowie, por quem se apaixonam, e o cinema de Stanley Kubrick – tudo isso antes do músico ter nascido ou de os filmes serem feitos.
O filme é uma narrativa em primeira pessoa, em branco e preto numa tela quadrada a um modo antigo, como se as irmãs tivessem filmado suas próprias experiências em suas brincadeiras com o tempo. Tudo vai muito bem, até que Martha resolve ajudar a Inglaterra quando a ameaça nazista se aproxima, mudando drasticamente a história para algo pior do que realmente aconteceu.
Máquina do Tempo, que tem roteiro do diretor e Angeli Macfarlane, caminha com passos inesperados, trazendo surpresas e reviravoltas ao longo de seus escassos 79 minutos e nunca se torna enfadonho ou se perde na narrativa. Certamente, não é um filme para todos os gostos: ou se embarca na narrativa pelo preço que ela se vende ou não, e, daí nada funciona.
A combinação de vários elementos levam a pós-modernidade desse filme a um lugar da acumulação de referências – coisas do “futuro” que só as irmãs e nós entendemos – históricas e cinematográficas. Os anacronismos se acumulam e guiam a trama etérea do longa, que dá a Martha um par romântico e a chance de viver uma história de amor.
A fotografia de Oona Menges e a trilha sonora de Neil Hannon contribuem para que Máquina do Tempo seja uma fantasia monocromática, marcada por algo de lúdico e o sonho de transformar a história da humanidade em algo melhor. Mas, toda vez que algo “sai do lugar”, as consequências são devastadoras e, como elas percebem, a utopia não encontra espaço para se concretizar, independente do cenário histórico.
O filme faz parte do Festivai de Filmes Incríveis, em SP, mais informações sobre o evento e a programação completa: https://www.cinebelasartes.com.br/programacao/festival-filmes-incriveis/