12/02/2025
Documentário

Fernanda Young - Foge-me ao Controle

O documentário resgata de forma poética e impressionista a vida e a carreira de Fernanda Young, escritora, roteirista, apresentadora que morreu em 2019, aos 49 anos. Nos cinemas.

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O documentário Fernanda Young - Foge-me ao Controle começa em 2007, com imagens de Fernanda Young numa viagem no deserto do Atacama, com falas dela que dão uma dimensão da escritora (como ela diz preferir ser chamada), seu humor peculiar, uma sagacidade nem sempre compreendida.

Dirigida por Susanna Lira, o longa resgata a trajetória de Fernanda, sublinhando como ela sempre se considerou uma escritora, mesmo antes de ser alfabetizada. Contar histórias – mesmo que só em sua mente – era uma constante na vida de Fernanda, que morreu em 2019. “Escritora é o que eu sou, o resto é como eu posso manifestar minhas necessidades financeiras, criativas ou políticas.”

Novamente, como ela mesma define, a tríade que marca sua obra, seus interesses: o amor, o tempo e a morte. Ao resgatar sua obra como roteirista – a série e os filmes Os Normais – ou escritora – "Vergonha dos pés" é um dos seus melhores romances –, mostra como esses elementos se intersectam em uma obra literária que se manifestava em diversas mídias. O humor é uma forma de crítica social. Os Normais, com seu deboche, questionava os papéis de gênero antes que isso se tornasse uma questão tão debatida no presente.

A pesquisa de arquivo de imagens e depoimentos de Fernanda é rica e constrói um vasto painel pessoal e profissional da escritora. Esse olhar impressionista é interessante por fugir da convencionalidade do cinema biográfico cronologicamente quadrado, acompanhando do berço à morte. Traz momentos-chave, como o casamento com Alexandre Machado, seu parceiro de vida e profissional, que conheceu quando ela tinha 16, e ele 27 anos.

Fernanda começou a escrever poesia como uma forma de lidar com sua dislexia, e por meio dela descobrir que esse tipo de comunicação, para ela, não era possível. Por isso tentou, no romance e em outros trabalhos, ser poética. São momentos como esse que trazem força e especificidade ao filme.

É um documentário, de certa maneira, um pouco caótico, mas isso não é acidente. Nessa essência desgovernada, está Fernanda, que, como ela mesma diz, era assim, mudava de um assunto para outro sem aviso, testava a atenção do seu interlocutor, que sempre lhe interessou profundamente. É bonito como o filme dá conta da complexidade dessa mulher.

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