21/05/2025
Terror

Longlegs - Vínculo Mortal

Uma jovem agente do FBI começa a investigar um misterioso serial killer que deixa, na cena do crime, símbolos que só ela pode compreender, e, com o tempo, ela percebe ter uma ligação macabra com ele.

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Longlegs – Vínculo Mortal esconde, por muito tempo, sua atração principal, que, a essa altura da história do mundo, todo mundo sabe que é Nicolas Cage. O que as pessoas só descobrem, no entanto, vendo o filme é seu assustador visual andrógino que deixa o ator quase irreconhecível. Osgood Perkins, filho de Anthony (que interpretou o psicopata mais famoso do cinema), conseguiu o feito de realizar e vender o filme sem dar qualquer spoiler. Até no cartaz, não aparece nenhuma imagem do ator, que é o mais famoso no elenco. Baita feito.

O filme também custa a revelar Cage. Mesmo no prólogo, que se passa alguns anos antes da trama principal, apenas ouvimos sua voz, num falsetto particular, conversando com a pequena Lee (Lauren Acala), um dia antes de seu aniversário de nove anos. Tudo isso, numa tela quadrada de cantos arredondados. Corta para os créditos, e 25 anos depois ela, adulta e interpretada por Maika Monroe, é uma novata no FBI. 

O roteiro, assinado pelo diretor, não esconde suas referências a O Silêncio dos Inocentes, com uma jovem agente do FBI à caça de um assassino em série que comete crimes grotescos. No caso aqui, envolvendo o assassinato de famílias inteiras. Mas Perkins traz uma nova camada: a agente Lee tem poderes paranormais e consegue prever o futuro, ver dentro da casa das pessoas. Isso vem a calhar em suas investigações.

Mas o filme também toma emprestado elementos de Zodíaco, pois o assassino deixar mensagens cifradas, e começa a perseguir Lee com afinco. O satanista que se identifica com nome Longlegs é uma criação bastante assustadora de Perkins e Cage, e o visual em especial contribui para isso. O ator está quase irreconhecível debaixo de tanta maquiagem. 

Mas não é apenas nisso que o longa se apoia. Seu tema central é o fanatismo religioso num momento de ascensão do conservadorismo extremo. Não por acaso, em dois momentos vêem-se fotos de Bill Clinton e Richard Nixon penduradas em paredes. Dois presidentes que mentiram à nação, e cuja derrocada permite a subida do neoconservadorismo. 

Nem tudo faz sentido em Longlegs. A conexão entre Lee e o psicopata é uma coincidência um tanto forçada, e o último ato também deixa alguns buracos, mas isso, no fundo, pouco importa. Perkins consegue penetrar a fundo na mente do assassino e de lá tira tramas impressionantes de fanatismo religioso, e o medo infinito que os cristãos têm do demônio. 

Para Perkins os sustos são importantes, mas não centrais – como é tão comum atualmente no gênero. Sua ideia é trabalhar com as expectativas, reconstruindo elementos de tensão de formas inesperadas. A resolução da trama, no entanto, se vale de elementos metafísicos que podem ser qualquer coisa, quando poderia, muito bem, se apoiar na psicologia ou mesmo na materialidade tornando-se ainda mais assustador. De qualquer forma, nada tira o posto do personagem Longlegs como uma das criações mais impressionantes de Cage. 

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