Filme de abertura da 17a. edição da Cine BH, em 2023, o longa Zé, do diretor Rafael Conde, aborda a história de um jovem líder estudantil, morto aos 27 anos, na ditadura civil-militar de 1964.
Em Zé, o percurso do protagonista (Caio Horowitz) ocorre num clima claustrofóbico, em que o protagonista e sua mulher, Bete/Madalena (Eduarda Fernandes), procuram manter-se na militância contra a ditadura, num momento em que a oposição e a luta armada contra o regime sofriam pesadas baixas. É um registro bastante intimista, em que fica em primeiro plano a angústia de uma juventude engajada, que não consegue os meios de lutar pela liberdade - com o agravante de que o casal Zé/Bete tem dois filhos pequenos.
O foco, no roteiro, assinado pelo diretor Rafael Conde e Anna Flavia Dias, é mesmo esse retrato de uma juventude a quem foi negado o direito de existir, de ser jovem. A onipresença da polícia, da vigilância, é sugerida de maneira sutil, para compor o clima de paranoia que cerca os personagens - e não se abusa das cenas de violência e tortura.
A militância juvenil na luta contra a ditadura militar, que ocupa o centro de Zé, é um tema, aliás, que felizmente vem sendo redescoberto pelo cinema brasileiro recente, como ocorreu em Entrelinhas, de Guto Pasko (PR), premiado no Cine PE 2023 e que igualmente retrata a história, baseada em fatos reais, de uma estudante presa e torturada durante o regime de 1964. Também o filme de abertura daquele festival pernambucano, Ainda Somos os Mesmos, de Paulo Nascimento (RS), ficcionalizava outro relato do mesmo período, sobre a fuga de um jovem militante para o Chile que é surpreendido pelo golpe do general Augusto Pinochet, em 1973, e se refugia na embaixada argentina - um enredo real, baseado nas memórias do advogado José Carlos Bona Garcia. Finalmente, O Mensageiro, da veterana Lucia Murat, enfoca o relacionamento esboçado entre uma jovem prisioneira política clandestina (Valentina Herszage) e o soldado que a vigia (Shi Menegat) e aceita levar notícias dela a seus pais, em 1969.