18/03/2025
Comédia Fantasia

Os fantasmas ainda se divertem - Beetlejuice Beetlejuice

Muitos anos depois de ter ido morar numa casa mal-assombrada, Lydia Deetz tornou-se uma famosa sensitiva, especializada em contatos com o além. Mas ela acaba voltando à velha casa, depois de uma tragédia. O episódio é sua chance de tentar reconectar-se com a própria filha, a adolescente Astrid, mas a coloca em confusões envolvendo o velho fantasma encrenqueiro, Beetlejuice. No Max.

post-ex_7

Tim Burton levou 35 anos para se arriscar a fazer a sequência de um filme seu nada menos do que 35 anos depois. Correu um risco enorme com Os Fantasmas ainda se Divertem, filme de abertura do Festival de Veneza 2024, mas a boa notícia é que deu certo, porque o veterano Burton apostou não só na desmedida iberdade de sua própria imaginação como soube injetar energia nova ao lado de aliados um pouco mais jovens, os roteiristas Alfred Gough e Miles Millar, criadores da série Wandinha.  

No elenco, repete-se essa dobradinha entre integrantes do filme original de 1988, como Michael Keaton, Winona Ryder e Catherine O”Hara, e caras novas, como Jenna Ortega, a Wandinha, ao lado de Willem Dafoe e Monica Bellucci em versões bastante inusitadas das próprias personas artísticas. O bom e velho Danny Elfman, colaborador assíduo das trilhas dos filmes de Burton, também está de volta. 

Evidentemente, Burton esbalda-se nos recursos hoje muito mais avançados de efeitos visuais para criar as ambientações do Além que já eram bastante interessantes no filme original e aqui ganham muito mais diversidade e riqueza de detalhes. 

Está de volta também o bom e velho choque de gerações, agora colocado entre Lydia Deetz (Winona Ryder), a adolescente gótica em 1988, transformada em especialista em causas sobrenaturais, e a filha Astrid (Jenna Ortega), que acha a profissão da mãe uma total fraude. Acima de tudo, ela sente falta do pai, Richard (Santiago Cabrera), que morreu num acidente na Amazônia. Um dos rancores de Astrid contra a mãe, aliás, é que com todos os seus alegados poderes de sensitiva, ela não consegue comunicar-se com o único morto que interessa à filha, como ela mesma diz. 

Willem Dafoe está ótimo como um ator que radicalizava em fazer suas cenas perigosas sem dublês que, após a morte, achou uma nova forma de exercer sua arte assumindo o papel de policial do além-túmulo. Ele é o delegado de plantão no Além e causa muitas risadas pelos excessos de sua canastrice que, certamente, ele trouxe de outra vida. 

No papel de Delores, Monica Bellucci, por sua vez, literalmente cata e cola os próprios pedaços depois de ter sido esquartejada e é uma feroz perseguidora de Beetlejuice (Michael Keaton), seu ex-, o autor do crime e cuja alma ela queria sugar. Sugar almas, aliás, é sua especialidade e ela não vai dar trégua enquanto não reencontrar Beetlejuice.

A trama envolve Lydia voltando à antiga casa assombrada paterna depois de uma tragédia e põe em movimento uma aventura que vai requerer a ajuda de Beetlejuice - só que ele não desistiu ainda de casar-se com Lydia, que tem outro pretendente de carne e osso em Rory (Justin Theroux), um noivo que ela conheceu na terapia.

Além da profusão de efeitos especiais e cenas hilariantes - uma delas, com a participação de Danny DeVito, uma sequência falada em italiano e o genial Trem das Almas -, é nítido que Burton, Gough e Millar investem parte considerável da energia do filme em satirizar situações e valores do mundo atual, caso dos influencers (outra sequência vistosa). Concluindo, há muito com que se divertir no filme de Burton, cujo entusiasmo é visível na tela.

Masse trata, é claro, é um humor exigente, não óbvio e requer cumplicidade dos seus espectadores, que devem ser amantes de biscoitos finos. Alguns deles estão na trilha sonora espertíssima, que inclui novas composições de Danny Elfman, uma nova versão de Banana Boat (Day-O), de Harry Belafonte (uma das melhores cenas do filme de 1988) e outras pérolas, como Tragedy, dos Bee Gees. 

post