16/03/2025
Drama

Quando eu me encontrar

Quando Dayane vai embora de casa, impedindo que qualquer pessoa a contacte, as vidas de sua mãe, de sua irmã e de seu namorado tomam novos rumos tentando lidar com esse abandono. No Canal Brasil.

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São por caminhos delicados dos laços de afetos que se movem as personagens de Quando eu me encontrar, primeiro longa da dupla Amanda Pontes e Michelline Helena. A partida de uma jovem, Dayane, que vai embora de sua cidade sem deixar qualquer forma de contato, irradia uma série de acontecimentos nas vidas das pessoas que a cercam. 

De maneira contida, o filme investiga as consequências emocionais nas vidas das pessoas que a cercavam. Sua mãe, Marluce (Luciana Souza), tenta aceitar a escolha da filha, enquanto a irmã menor da jovem, a adolescente Mariana (Pipa), sente um peso enorme recair sobre ela. Já o noivo de Dayane, Antônio (David Santos), não tem a menor ideia de como lidar com essa perda, e busca a melhor amiga dela, a cantora Cecília (Di Ferreira), para buscar explicações. 

Tendo essas quatro personagens como as figuras centrais, o filme busca maneiras de observar essas vidas esfaceladas pela perda. Mariana, por exemplo, se torna rebelde, bate de frente com a mãe, a quem acusa, não sem uma dose de razão, de omissão. Já Antônio tenta se aproximar de Cecília, de quem nunca gostou. 

Amanda e Michelline prestam atenção aos pequenos detalhes, às transformações das personagens diante de algo sobre o que não têm controle. A câmera sempre curiosa acompanha a vida dessas figuras comuns num momento de transição involuntária, cujas vidas deverão mudar, mas nem elas sabem como. 

A cada novo filme, Luciana Souza se firma como uma das melhores atrizes de sua geração. Ela surgiu no cinema no primeiro Ó Pai Ó, e, desde então, apareceu em filmes como Bacurau e o mais recente Greice. Aqui, sua presença é hipnótica, como a mãe consumida pela culpa e esforçada em “não errar” com a filha que ficou, tornando-se assim uma mulher mais severa, sem notar o quão prejudicial seu comportamento é com Mariana. 

Como acontece com Marluce, todas as áreas da vida das personagens são afetadas pela partida de Dayane. É pelo cotidiano, as coisas simples da vida, que o filme é mais revelador de uma Fortaleza contemporânea e muito musical. 

Premiado nas categorias Melhor Filme e Melhor Roteiro pelo Júri da Crítica no Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba em 2023, Quando eu me encontrar marca a estreia de duas diretoras a se prestar atenção. A maneira como Amanda e Michelline observam a política dos afetos é reveladora não apenas do estado emocional das personagens, mas também de duas jovens cineastas extremamente talentosas. 

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