12/02/2025
Animação Infantil

Placa-Mãe

Nadi é uma robô que é reconhecida como uma cidadã. Com seus instintos maternos desenvolvidos, ela tenta adotar duas crianças órfãs, um irmão e uma irmã, a quem dá afeto e uma vida boa. Mas os preconceitos da sociedade colocam a nova família em risco. Nos cinemas.

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A animação infantil brasileira Placa-Mãe mostra sua boa sacada logo no título. Obviamente, placa-mãe é aquele componente fundamental de um computador, mas aqui a personagem-título é uma androide chamada Nadi que leva ao pé da letra a ideia de uma “placa-mãe”. Ela deixa aflorar seus instintos maternos após ganhar cidadania numa sociedade futurista e adota duas crianças, que são irmãos. 

Com roteiro e direção assinadas por Igor Bastos, o filme está em sintonia com o presente, embora a ação seja situada num futuro próximo. A questão central é o desenvolvimento da inteligência artificial a ponto de sentir emoções. Ao contrário da maioria dos filmes nos quais IA se tornam vilãs para dominar o mundo, aqui o plano pessoal se sobressai, ao retratar os laços de afeto que unem Nadi e seus filhos adotivos Davi e Lina. 

Mais do que temas tecnológicos, o longa também explora questões sociais urgentes de nosso tempo, como as famílias que fogem ao modelo convencional. Nadi não só é uma mãe solo, que adota duas crianças negras, mas também é uma robô, o que a faz encaram ainda mais preconceito e questionamentos por parte da sociedade. Nada muito diferente do que enfrentam mães solos ou casais homoafetivos. 

Nadi precisa lidar com a burocracia, o que toma um longo tempo no processo de adoção. As crianças que adota não são, geralmente, as primeiras escolhidas por outras pessoas – tanto que Davi e Lina estavam há anos num orfanato esperando uma chance. 

O filme constrói seus debates de forma acessível ao público-alvo, trazendo temas sérios e relevantes de forma descomplicada, além de satirizar a extrema-direita com suas ideias equivocadas sobre a existência de apenas um tipo de família. 

Tudo isso vem numa embalagem muito bonita de se ver e ouvir – a trilha conta com composições de Milton Nascimento e Caetano Veloso, entre outros. Eventualmente o filme se torna cansativo em seus mais de 100 minutos devido à reiterativa insistência nas questões sociais, impedindo que a narrativa flua mais livremente. É como se abraçasse sua importância e não largasse mais. Novamente, é importante que exista um filme visualmente empolgante e acessível ao público infantil lidando com temas como este, mas Placa-Mãe poderia tornar essa consciência social mais leve, menos imponente. 

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