O terror de tintas sociais é um gênero que parece agradar aos jovens cineastas brasileiros. De Marco Dutra e Juliana Rojas e Aly Muritiba, e, também, Davi Pretto com seu novo trabalho Continente, premiado no Festival do Rio com o troféu de direção da mostra Novos Rumos.
Amanda (Olivia Torres) é uma jovem brasileira que volta ao país depois de 15 anos fora. Ao chegar à fazenda onde viveu a vida toda, encontra seu pai num coma profundo. Ela está em companhia de seu namorado estrangeiro, Martin (Corentin Fila), que a apoia incondicionalmente, mas está em choque cultural com os costumes do país.
O filme cria uma tensão entre Amanda e os moradores do vilarejo nas proximidades da fazenda como uma bomba pronta a explodir. A dialética da casa grande e senzala é, também, cara ao cinema brasileiro, embora nem sempre os filmes consigam explorar bem as distinções entre cada uma.
A tensão cresce, e a única médica da região, Helô (Ana Flavia Cavalcanti), tenta cuidar de todos. Mas a morte do fazendeiro acelera um processo de decadência e possível liberdade para os trabalhadores rurais.
Pretto faz um filme coberto por muito sangue – em alguns momentos lembra o francês Desejo e Obsessão, de Claire Denis, com seu gosto pelos corpos cobertos de vermelho. Continente parece seguir um caminho já trilhado, também, por Bacurau e Propriedade, retratando a tensão de classes e tomando um microcosmo como um todo do Brasil. Os outros filmes, porém, o fizeram com mais propriedade e menos sanguinolência gratuita.