14/12/2024
Drama Fantasia

Caracas

De volta a Nápoles depois de muitos anos, o escritor Giordano Fonte é celebrado. Mas ele está estranhamente desanimado e não tem mais vontade de escrever. Mas, na cidade natal, entra em contato com personagens novos e também resgata memórias do passado, quando conviveu com um certo Caracas. No Festival de Cinema Italiano (grátis no streaming do site até 8/12/2024).

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O segundo longa do também ator Marco D’Amore envereda por uma narrativa labiríntica para ligar as vidas de seus protagonistas, o escritor Giordano Fonte (Toni Servillo) e o fotógrafo Caracas (Marco D’Amore). É uma opção arriscada, mas também atraente, já que promove um diálogo entre criador e criatura, ou seja, entre um escritor e um personagem que ele cria a partir de suas experiências e memórias na cidade de Nápoles.

Muitos artistas já procuraram captar a mistura indissolúvel de perigo, beleza e horror que caracteriza a bela cidade italiana. Ela é o cenário principal desta história trágica e amorosa, a que se conectam os destinos de Caracas, um ex-fascista convertido ao islamismo, e Yasmina (Luna Camélia Lumbroso), uma dançarina muçulmana e renegada por muitos dos seus, inclusive por seu vício pela heroína.

A referência fascista é colocada logo de início para situar a vida pregressa de Caracas - um apelido de significado onírico e não uma raiz venezuelana. E a impressionante sequência do ataque dos camisas negras a um bairro de imigrantes explica a procura de Caracas pela conversão ao islamismo. Ele busca uma luz divina para substituir o mergulho na força e no horror e sua guia inicial nessa comunidade é justamente Yasmina. 

Há um contraste nessa busca mística de Caracas e no ceticismo que domina Giordano, um velho e consagrado escritor que há muitos anos abandonou Nápoles sem conseguir tirá-la de dentro de si. Nesta volta, ele parece reencontrar suas raízes, ainda que em clima mais de pesadelo do que de sonho. Mas são essas memórias sombrias que o guiam ao encontro de uma inspiração para escrever que parecia perdida. 

Talvez nem todos os espectadores se conectem com esse tipo de relato em que a realidade do que se vê é duvidosa e parece escapar a cada sequência. Em todo caso, é uma opção criativa, que eventualmente pode confundir as certezas de quem vê e que serão substituídas, pouco a pouco, à medida que se acompanha o desenvolvimento do livro de Giordano. Que imagina vários finais para a história de Caracas e Yasmina e deixa para a última sequência para revelar quem era realmente Caracas. 

É o tipo de papel que se ajusta com muita naturalidade à pele de Servillo, ele mesmo napolitano e repetindo inúmeras vezes este papel de um homem maduro desalentado. Evidentemente, não se trata de um novo caminho para ele mas ele o desempenha indubitavelmente bem, tendo a seu favor ainda o fato de ser napolitano, permitindo-lhe uma fluência particular nos muitos diálogos no dialeto local. 

Famoso por seu papel na série Gomorra, Marco D’Amore realiza aqui seu segundo longa, adaptando, no roteiro, o livro Napoli Ferrovia, de Ermanno Rea.

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