A partir de um roteiro original, escrito a quatro mãos pelo diretor Marco Martani e Massimiliano Bruno, emerge a história de quatro amigos de uma pequena cidade na Calábria cujas vidas foram drasticamente afetadas por uma tragédia criminosa.
Neste melodrama carregado de uma nota policial, o ponto de partida é um incidente, envolvendo Antonio (Francesco Russo) e policiais da cidade, que ele enfrenta com uma faca na mão. Mas rapidamente ele é desarmado e conduzido à delegacia, onde seu relato se tornará o fio condutor de uma história cheia de nuances.
Antonio, que é carteiro, é o único de uma turma de amigos de infância que permaneceu na cidade. Os demais estão prestes a voltar, a partir do momento que um deles, o policial Gianluca (Alessio Lapice), comunica aos outros sua intenção de retornar, para finalmente dar cabo de um plano de vingança longamente acalentado.
O diretor Martani é eficiente em manter o clima de suspense a partir do relato de Antonio, intercalado pela participação dos outros personagens, que serão apresentados um a um. Fazem parte do grupo também Walter (Lorenzo Richelmy), um roqueiro agora famoso sob o nome de Inferno, a jornalista Margherita (Lucrezia Guidone) e seu irmão menor, Andrea (Romano Reggiani). Todos eles, finalmente, voltarão à sua terra natal, em princípio para deter Gianluca.
Alguns flashbacks explicam a história destas pessoas, que compartilharam uma infância e pré-adolescência despreocupada e normal, indo à praia e curtindo namoros, como qualquer um. Pouco a pouco, fica clara a dominação política na cidade do veteraníssimo senador Rizzo (Massimo Popolizio), uma presença mafiosa, que tem um papel central nos traumas dos amigos e protagonistas.
O ponto forte da história está na construção das personalidades distintas e dos laços unindo estes amigos, todos eles carregando cicatrizes de um episódio altamente dramático que presenciaram, a partir do qual acalentaram um plano de vingança. Essa volta à cidade natal, portanto, é carregada de más lembranças e consequências imprevisíveis, pelas emoções reprimidas que afloram, mesmo naqueles mais avessos a qualquer tipo de vendeta. Sentimentos, afinal, podem mudar.
Um personagem ambíguo neste cenário é Peppino (Giancarlo Commare), filho do senador e seu provável herdeiro político, ainda que carregue, ele mesmo, traumas de uma criação um tanto autoritária. Se também pertence à mesma geração dos amigos que voltam, ele tem uma ligação incontornável com o culpado por suas desditas. É também nesta ambiguidade que o filme apóia parte de sua expectativa, construindo habilmente esta atmosfera policial, que caminha para um desfecho sombrio, num ambiente em que o atavismo de um poder político corrupto e criminoso mantém as rédeas, sem alternativa de redenção.