14/12/2024
Drama

O Penitente

Carlos Hirsch é um experiente psiquiatra novaiorquino que se vê envolvido num escândalo midiático quando um de seus pacientes, um jovem estudante, mata 8 pessoas num tiroteio. Começando com uma vaga acusação de homofobia, que teria sido detetada em um de seus escritos, o médico vê sua vida transtornada. No Festival de Cinema Italiano (grátis no site até 8/12/2024).

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Sempre se pode esperar muito de um roteiro de David Mamet Dilemas morais, éticos, observações cortantes sobre as contradições da natureza humana e das situações da vida. Tudo isto está presente neste filme, dirigido e protagonizado por Luca Barbareschi, que interpreta um psiquiatra novaiorquino, Carlos Hirsch.

Profissional estabelecido há muitos anos, Hirsch vê-se no centro de uma batalha midiática quando um de seus pacientes, um jovem estudante, conduz um tiroteio onde morrem oito pessoas. Os motivos que levam o médico a tornar-se o centro das atenções é uma vaga acusação de homofobia, que um jornal atribui a um de seus escritos, e que a defesa do rapaz usa como um artifício para criar, talvez, um atenuante para seu cliente. 

O psiquiatra é uma figura reservada e intrigante. Primeiro, por uma certa relutância em enfrentar esta que se torna uma campanha de desmoralização e até cancelamento, dada a extensão midiática que alcança. Depois, pela dificuldade de expor seus motivos, inclusive para sua mulher, Kath (Catherine McCormack), cuja vida social também foi arrastada neste turbilhão.

Um problema é que o tom distanciado que Barbareschi impõe ao próprio personagem termina por fazê-lo francamente antipático, tornando difícil sentir empatia por suas motivações, que aliás custam demais a emergir. Antes disso, ele terá embates com seu advogado, Richard (Adam James), que procura guiá-lo para uma conduta pragmática no enfrentamento tanto à selva midiática quanto ao intrincado sistema judicial. Mas a aparente irracionalidade e teimosia de Hirsch persistem, dando a entender que ele não consegue usar em proveito próprio as ferramentas de sua própria profissão.

Por esse motivo, o filme torna-se um tanto frio, ainda que trafegando por tantas questões candentes e oportunas. Carregadas de mágoa, as cenas do psiquiatra com sua mulher poderiam alçar uma temperatura emocional maior, mas isso não acontece - apesar do esforço da atriz Catherine McCormack. Mas, se há uma cena que vale o filme, é o depoimento do psiquiatra ao procurador (Adrian Lester). Lester brilha como um interrogador persistente, no limite da crueldade, verdadeiro inquisidor deste homem inseguro que é Hirsch, demonstrando um tardio apego a conceitos religiosos (ele é judeu) para explicar sua intrigante conduta, que equivale a uma quase recusa à autodefesa. Evidentemente, há culpa por trás de tudo isso, mas, quando se compartilha este detalhe com o espectador, poderá ser tarde demais para envolvê-lo numa trama que desperdiçou chances demais.

 

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