O veterano diretor mauritano Abderramane Sissako (conhecido por Timbuktu) cria uma ponte entre a Costa do Marfim e a China em Black Tea - O Aroma do Amor, acompanhando a viagem de Aya (Nina Mélo), jovem africana que imigra para a China depois de desistir do casamento no altar.
Apesar de um começo promissor e do interesse despertado por esta comunidade africana numa realidade tão diferente quanto a chinesa - e todos eles falam chinês -, o filme se perde um bocado quando contempla narrativas divergentes, não se detendo o suficiente em situações e personagens para extrair deles o seu melhor.
Radicada em Guangzhou, sul da China, numa comunidade africana dedicada ao comércio - e batizada com o polêmico nome de “Chocolate City” - , Aya trabalha numa elegante casa de venda e degustação de chás, pertencente a um empresário divorciado, Wang Cai (Chang Han). Delineia-se entre os dois uma atração sutil, mas que encontra um obstáculo na distância emocional que Cai manifesta em seus relacionamentos, o que já causou sua separação da primeira mulher, Ying (We Ke-Xi), e do filho adulto dos dois, Li-Ben (MIchael Chang), que trabalha com o pai na casa de chá.
Sem aprofundar esta que parece ser sua trama principal, o diretor dedica alguma atenção a uma série de personagens secundários, como um policial que vive cortando o cabelo, os cabeleireiros africanos que se esmeram na arte de penteados estilosos como o de Aya e outros, sem que isso aprofunde uma visão mais nuançada desta pequena comunidade africana num ambiente tão diverso.
Nota-se também a relutância do diretor em entrar em assuntos mais polêmicos, como o racismo, contentando-se com incidentes superficiais cujo tratamento e interligação mostram-se insatisfatórios. Isto confere ao filme uma atmosfera mais exotizante do que seria de esperar do diretor, cuja própria experiência de vida permitiria explorar melhor as contradições dos choques culturais. Nascido na Mauritânia em 1961, Sassako viveu no Mali e na então URSS antes de radicar-se na França, há mais de 30 anos.