21/01/2025
Documentário

Razões africanas

Viajando entre Brasil, Cuba e alguns países da África (Angola, Congo e Mali), o diretor Jefferson Mello assinala as raízes de três ritmos musicais: o blues, a rumba e o jongo.

post-ex_7

O documentário de Jefferson Mello explora os caminhos de um dos efeitos mais sensíveis da diáspora africana: a música. Viajando entre Brasil, Cuba e alguns países da África (Angola, Congo e Mali), o diretor assinala as raízes de três ritmos musicais: o blues, a rumba e o jongo.

Para sustentar a narrativa, cada gênero musical terá um personagem como guia. No caso do blues, o músico Terry “Harmonica” Bean, morador de Bentonia, Mississippi. Expressivo contador de histórias, Terry lembra como o blues chegou a ser considerado diabólico por pastores do sul dos EUA, ganhando status de música sacra quando adentrou os cultos - embora, como ele destaca, a música fosse exatamente a mesma. Não poderia faltar em seus relatos a figura mítica de Robert Johnson (1911-1938), cantor, compositor e guitarrista que ganhou fama por supostamente ter feito um pacto com o diabo, que finalmente morreu envenenado numa trama passional e que hoje tem três sepulturas, em três locais diferentes, cada uma delas reivindicando ser o verdadeiro túmulo do celebrado músico. 

Para falar da rumba, ninguém melhor do que Eva Despaigne, a pioneira fundadora do Obini Batá, que quebrou o tabu iniciando o primeiro grupo de mulheres tocadoras do tambor batá. A própria Eva, que ainda toca e canta, explica como se fundiram as raízes africanas e espanholas na ilha de Cuba para formar o ritmo como é tocado hoje e os desafios que encarou por enfrentar o machismo.

No Brasil, cabe a Lazir Sinval, sobrinha-neta de tia Maria da Serrinha (que morreu em 2019), expressar as raízes e manifestações do jongo da Serrinha, local de quilombo e terreiro em terras do Rio de Janeiro. Originário dos bantos de Angola que vieram escravizados para o Brasil, o ritmo adquiriu aqui sua cor local, mantendo também sua veia comunitária através de uma rede de transmissão e aprendizado entre gerações. É através das festas que se dá o contato entre as comunidades jongueiras, seguindo a tradição que vem da África.

Viagens a locais como Kita, no Mali, Huila, em Angola, e Camp Sinat, no Congo, fornecem modelos comparativos de como os ritmos musicais se expressam em locais bastante remotos da África, com o mesmo sentido comunitário e intergeracional, mas guardando suas peculiaridades. Do lado de cá, na América, aqueles sons e ritmos ganharam outra textura, mas as raízes comuns são evidentes. Há uma ponte imensa ligando Brasil, EUA e Cuba à África e ela é intensamente musical.

 

post