Roteirista experiente (A Jaula) e diretor de curtas (Sandra Chamando), João Cândido Zacharias estreia na direção de longas com este horror social, protagonizado por um jovem que volta ao Brasil e descobre ter como herança uma casa de campo que pertenceu à avó.
Thomas (Diego Montez) chega ao país na companhia do namorado, Beni (Yohan Levy), que fala pouco português. Eles se hospedam no casarão onde moram suas tias Vitória (Analú Prestes) e Berta (Cristina Pereira), com quem ele sempre teve pouco contato. A casa sempre pertenceu à família, e um retrato da avó (Gilda Nomacce) parece ainda vigiar a todos.
Thomas e Beni são muito bem recebidos e paparicados pelas tias, que parecem não ter nenhum comentário sobre o namoro deles, embora sejam claramente conservadoras, a ponto de tentar induzir um romance entre o sobrinho e a moça que trabalha na casa, Amanda (Luiza Kosovski).
A atmosfera do filme, assim como do casarão, é estranha, e muito deve à fotografia de Guilherme Tostes, à direção de arte e ao desenho de produção de Elsa Romero, que criam um ambiente, assim como a mentalidade das tias, que parece parado no tempo.
Aos poucos, abandona-se o realismo para entregar-se a um tipo de terror que lembra os filmes de Juliana Rojas e Marco Dutra, nos quais os elementos fantásticos são materializações de questões sociais – no caso, aqui, a heteronormatividade.
O clímax sangrento é inesperado, e talvez a construção da narrativa e das personagens pudesse ser mais afinada para caminhar para esse momento. De qualquer forma, A Herança é uma nova entrada no cânone de horrores nacionais, um conjunto em franca ascensão.