21/01/2025
Terror

Herege

As missionárias Barnes e Paxton são duas jovens que andam de casa em casa buscando recrutar novos fieis para sua igreja. Quando encontram o sr. Reed, parecem ter descoberto um homem interessado na conversão. No entanto, isso faz parte de um jogo perverso que ele arma para elas.

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Hugh Grant dá um giro em sua carreira como protagonista de Herege, um sujeito dissimulado de alto potencial intelectual e psicótico. Longe dos personagens de comédias românticas ou dramas de época ingleses, o ator mostra um lado mais obscuro como o sr. Reed do filme escrito e dirigido pela dupla Scott Beck e Bryan Woods. 

O filme começa com uma cena que já deveria entrar para a história do cinema. Duas meninas mórmons, as Missionárias Barnes (Sophie Thatcher) e Paxton (Chloe East) conversam, sentadas num banco de praça, sobre pornografia, sobre o que já viram na internet escondidas e o que pensam sobre o assunto. É uma cena ao mesmo tempo engraçada e dramática, e, enquanto a câmera se afasta, vê-se na parte de trás do banco uma propaganda de preservativos. 

Barnes e Paxton, no entanto, não tiveram a mesma educação. A primeira só entrou para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias depois de adolescente, quando sua mãe se converteu. Já Barnes nasceu e foi criada sob as crenças da religião, e é muito mais inocente e ingênua. Uma questão que o filme coloca é: como jogar no mundo uma jovem que passou a vida toda praticamente sem sair de casa até os 18 anos? Mais ainda, como a colocar indo de casa em casa em busca de novos devotos se ela não tem a malícia suficiente para enfrentar os perigos mundanos?

Nessa busca por novos fiéis, elas acabam na casa do sr. Reed, um homem simpático que se mostra interessado pela religião delas, e as convida para entrar. Receosas, dizem que, sob as leis de sua religião, só podem estar no mesmo ambiente que um homem se houver outra mulher. E ele prontamente diz que a esposa está na cozinha assando uma torta. Sorridentes, entram na casa dele, e o pesadelo começa. 

Qualquer pessoa mais escolada desconfiaria dessa história da mulher na cozinha, mas não é o caso das jovens. Na sala, conversam com ele, enquanto esperam a tal esposa com uma fatia da torta. O homem se mostra um profundo conhecedor de religiões, inclusive mostra um exemplar do Livro dos Mórmons lido e com muitas anotações, o que logo anima Paxton.

Enquanto está nesse jogo intelectual, Herege cria uma atmosfera e arma elementos que parecem diferenciá-lo dos horrores mais típicos. Mas não por muito tempo. Quando cai o véu que cobria suas verdadeiras intenções, o longa logo se torna genérico, com sustos baratos, sanguinolência e afins. Uma pena. 

Embora os diretores pareçam insistir que estavam fazendo O Silêncio dos Inocentes para o século XXI, não era exatamente o caso, mas havia uma sensação de algo acima da média, nas provocações sobre religião, vida, morte e Deus. Depois, em sua segunda metade, quando vira um jogo de gato e rato metafísico entre Reed e as duas garotas, o filme abusa da fé de qualquer um. 

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