21/01/2025
Documentário

Pão, Rosas e Liberdade

Desde agosto de 2021, volta do Talibã ao poder no Afeganistão, as 20 milhões de mulheres do país voltaram a ser severamente reprimidas. Não podem mais estudar, trabalhar e nem mesmo sair à rua desacompanhadas. Neste universo de opressão, surge um movimento de resistência, liderado por mulheres como a dentista Zahra Mohammadi, que recusa fechar seu consultório.

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A volta do Talibã ao poder no Afeganistão, em 2021, é o ponto nevrálgico deste documentário, dirigido pela cineasta Sahra Mani - que tem no currículo uma estreia multipremiada, o documentário A Thousand Girls Like Me, sobre o caso de Khatera, primeira mulher a levar um caso de incesto aos tribunais naquele país, ela que foi, por 13 anos, vítima de estupros de seu próprio pai. 

Em Pão, Rosas e Liberdade, seu segundo longa documental, a diretora, mais uma vez, focaliza a condição feminina em seu país, centralizando em algumas personagens os efeitos devastadores da volta dos fundamentalistas ao governo. Como ocorrera na primeira passagem do fanático grupo no poder, as mulheres são proibidas de estudar e exercer suas profissões, confinadas a suas casas e têm seus movimentos restritos. Mesmo assim, elas resistirão.

Uma das líderes da resistência é a dentista Zahra Mohammadi, que insiste em manter aberto seu consultório ao mesmo tempo que participa dos protestos pacíficos das mulheres por educação, trabalho e liberdade, os três motes de seus cartazes. Esses protestos são enfrentados por milícias armadas, que não hesitam em agredir as mulheres e lançar bombas de gás lacrimogêneo. Muitas delas são presas e, mais uma vez, agredidas. Algumas desaparecem, como foi o caso de Tamane e suas irmãs, que tiveram sua casa arrombada pelas novas autoridades e levadas a uma prisão.

O documentário é particularmente eficiente em retratar por dentro não só o movimento feminino como em mostrar o cotidiano dessas mulheres, reduzidas a prisioneiras dentro de suas próprias casas. Elas só podem sair acompanhadas de um homem. Caso saiam sozinhas, são paradas pelos milicianos e sujeitas a constrangimentos, como acontece com Sharifa, uma funcionária pública obrigada a deixar seu emprego, num dia em que fazia um trajeto num táxi.

Não é de se estranhar que algumas entre as 20 milhões de mulheres afegãs tentem saídas como o exílio. Esse foi o caso da ativista Taranom, que foge de automóvel para o Paquistão. Através de vídeos de seu celular, Taranom registra o seu difícil cotidiano naquele país. Ela e outros refugiados conseguem abrigo numa casa em más condições, no meio de um matagal onde existiam cobras, e são obrigados a conviver com todo tipo de carências. Ao mesmo tempo, seus pedidos de asilo demoram a ser processados e todos temem que não será possível permanecer ali por muito tempo.

Neste documentário-denúncia, realizado com táticas de guerrilha, recorre-se a câmeras e celulares escondidos, incorrendo-se em nada desprezíveis riscos pessoais para todos os envolvidos - como acontece especialmente com a agora muito notória dentista Zahra Mohammadi. A situação das mulheres no Afeganistão, no entanto, não é segredo. Já se sabia o que iria acontecer quando os EUA anunciou sua partida do país, na data-limite de 15 de agosto de 2021, quando se presenciaram cenas chocantes dentro e nos arredores do aeroporto de Cabul, na tentativa desesperada de centenas de pessoas de escapar ao iminente jugo Talibã - como aqueles que, de algum modo, prestaram serviços aos norte-americanos, além dos opositores políticos aos fundamentalistas. Independentemente de suas ligações, as mulheres, desde sempre, seriam alvo, como sempre foram, apenas por serem mulheres. E o mundo assiste, inerte, a mais esta atrocidade. 

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