Fazendo do Acre sua casa e seu material de trabalho, o cineasta paulista Sérgio de Carvalho chamou a atenção quando seu longa Noites Alienígenas venceu o Festival de Gramado de 2022. No documentário Empate, novamente ele volta sua câmera à região e aos seus problemas sociais e políticos. Dessa vez, concentrando-se na luta dos seringueiros da região, começando nos anos de 1980, com a atuação de Chico Mendes, líder que foi assassinado em sua cidade, Xapuri, em 1988.
O longa tem Mendes como figura central, mas se expande ao partir de material de arquivo, não apenas sobre ele, até chegar ao presente de sua produção em 2018, fazendo um vasto painel sobre a opressão e a resiliência dos seringueiros e das seringueiras locais. O fato de viver ali e conhecer essas pessoas há um bom tempo permite que o diretor tenha acesso a conversas francas abordando a força da organização em prol de um bem coletivo.
A resistência pacífica ao desmatamento e à exploração desenfreada da natureza ganha exatamente o nome de empate, que consiste em, sob liderança do sindicato, reunir um grupo com suas famílias e se colocar na linha de frente contra os jagunços prontos para derrubar árvores. A estratégia chega à tentativa de convencimentos desses mesmos homens, com motosserra em punho, de que o desmatamento também afetaria a eles e suas famílias com a escassez de árvores.
É uma ideia muito bonita investigada pelo filme, exatamente pelo prisma humano, destacando a luta que começou nos anos de 1970. A Reserva Extrativista Chico Mendes é um dos cenários principais do filme, e seu retrato, mesmo num filme rodado às vésperas da eleição de 2018 que levou Jair Bolsonaro à presidência, mostra de maneira clara as transformações enfrentadas pela região e seus moradores, desde as dificuldades com os recursos naturais, cada vez mais escassos, até as questões políticas num local sempre marcado por tensões.
