21/01/2025
Drama

Queer

Nos anos 1950, o norte-americano William Lee vive na Cidade do México, mergulhado na bebida, na heroína e na busca de ligações fugazes com rapazes. Um dia, conhece o jovem Eugene e este lhe desperta uma paixão.

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Exibido em competição no Festival de Veneza 2024, o drama do cineasta italiano Luca Guadagnino adapta romance de William Burroughs publicado em 1985 e tem como grande trunfo de marketing escalar o ex-007 Daniel Craig como o protagonista, William Lee. O personagem é um alterego de Burroughs, um expatriado norte-americano gay, vivendo no México dos anos 1950, entregando-se aos seus delírios, vícios e paixões, o que valeu a Craig uma indicação no Globo de Ouro como melhor ator de drama.

O filme é claramente dividido em duas partes. Na primeira, William parece mover-se numa espécie de cenário, uma Cidade do México estilizada, em que ele cumpre percursos curtos, entre seu hotel e bares, onde se embriaga e caça seus acompanhantes mais jovens. Nos intervalos, se injeta heroína.

Esse homem de meia-idade, cético e desesperado, em quem só essas paixões efêmeras parecem despertar alguma energia, de repente se apaixona por uma figura intrigante. Trata-se de Eugene Allerton (Drew Starkey), um jovem bonito que desperta o interesse de todos os gays frequentadores desses bares, mas que joga um mistério ao projetar uma imagem heterossexual, sempre acompanhando-se de uma mulher.

A ambiguidade de Eugene parece dar combustível para aumentar ainda mais o interesse de William por ele, mergulhando numa espécie de obsessão. E há pelo menos uma bela cena de sedução entre os personagens que denota a qualificação do diretor na composição de detalhes.

Iniciada uma ligação entre os dois, eles decidem aventurar-se numa viagem ao Equador, em busca de uma experiência lisérgica com o ayahuasca, um chá alucinógeno que teria, segundo eles ouviram, também um poder de despertar visões telepáticas. Essa segunda parte do filme é a mais problemática. Tudo o que na primeira parte era composição com controle e alguma delicadeza aqui se torna uma procura de excesso que termina tornando-se até preconceituosa contra o ambiente sul-americano. Evidentemente, poderia ser essa a visão do personagem, mas que o filme sucumba a isso dessa forma, supostamente para retratar um delírios que se tornam pesadelos, é simplesmente desastroso. 

Afunda nesse exagero inclusive a composição da personagem interpretada pela magnífica atriz inglesa Lesley Manville, na pele de uma pesquisadora do ayahuasca que se tornou uma espécie de bruxa, vivendo numa cabana, suja no meio da selva e comportando-se como uma maluca. Aí o filme perde o eixo, se desequilibra e desperdiça até alguns bons momentos, alguns de inspiração lynchiana, em que William, inebriado por suas drogas, se imagina velho, além de outras visões.

Na trilha sonora, o diretor toma liberdades que não caem mal, como o uso de Come As You Are, do Nirvana. Mas o resultado final fica bastante aquém de seu sucesso anterior, Me Chame pelo seu Nome (2017).

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