Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim 2024, o documentário Dahomey, de Mati Diop, acompanha a devolução de 26 peças históricas do Benin - de um total de 7000 -, roubadas durante o processo colonialista no final do século XIX e que estavam em museus franceses. A diretora segue não só o processo físico deste retorno das peças, de valor artístico, histórico e também religioso ao seu local de origem, como se permite introduzir um toque fantástico - como fizera em seu filme anterior, o premiado Atlantique - ao dar uma voz interior a uma dessas estátuas, que manifesta seus sentimentos em relação a esta volta ao lar.
Ao seguir as discussões de estudantes na Universidade de Abomei em torno desta retomada, Diop também assinala os contornos de uma cultura extremamente viva, de uma juventude africana disposta a tomar seu destino com as próprias mãos - um tema em que a diretora franco-senegalesa está à vontade e com propriedade.
De várias maneiras, o filme dialoga com uma perspectiva anticolonial, que questiona o direito das nações dominadoras de países da África e das Américas no passado de apropriar-se destes objetos, que tinham um significado histórico e sagrado em seus territórios originários, em prol de transformá-los em seu butim, depois peças de museus. Os museus europeus, aliás, teriam que fechar várias de suas salas se tivessem de devolver esses objetos colhidos nos países que eram então tidos como o Terceiro Mundo, habitados por povos considerados inferiores e selvagens, cuja dominação era encarada como quase um dever pelos ditos povos civilizados. Essa saudável rediscussão moderna ganha uma ferramenta de qualidade com este filme de Mati Diop.