19/03/2025
Romance Drama

Crônica de uma Relação Passageira

Charlotte e Simon se conhecem por acaso e logo começam um caso. Ela é solteira e de bem com a vida e sua sexualidade; ele, casado e cheio de complicações. Decidem que o caso será baseado apenas no sexo, mas, aos poucos, surge um afeto especial entre eles. Nos cinemas.

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É de se perguntar como o francês Emmanuel Mouret consegue fazer o que faz. Seus filmes aparentam ser simples, são basicamente pessoas conversando – como Eric Rohmer fazia – mas essa suposta simplicidade escamoteia a complexidade de forma e conteúdo de suas sobras. O título Crônica de uma Relação Passageira já deixa tudo claro. O tom é de crônica e um romance fugaz será retratado. 

Seria um spoiler se Mouret, que também assina o roteiro com Pierre Giraud, subvertesse esse princípio. O que interessa aqui são as dinâmicas da vida, que unem e separam as pessoas, e como mesmo falando demais, elas podem esconder muito – ou talvez falar seja uma estratégia para, exatamente, esconder os sentimentos reais. 

Sem perder qualquer tempo sobre julgamentos morais de relações pautadas pelo sexo – inclusive as extraconjugais – o filme coloca Simon (Vincent Macaigne), um homem casado, envolvendo-se com Charlotte (Sandrine Kiberlain), uma mulher de espírito livre com uma visão positiva sobre o sexo. Não custa muito, depois de se conhecerem num bar, passarem algumas horas juntos num quarto de hotel. 

A relação deles não é marcada por sentimentos profundos. São, de certa forma, uma companhia um para o outro, e assim visitam museus, parques, conversam sobre suas vidas e, eventualmente, vão para um quarto de hotel. O sexo, embora ainda uma parte importante da relação entre eles, é apenas isso apenas mais um elemento desse relacionamento que se recusa a ser (ou ser assumido como) sério. 

Kiberlain faz uma personagem diferente daquela a que estamos acostumados a ver. Uma mulher animada com a vida e sem neuras. Já Macaigne interpreta uma figura parecida com aquelas que fizeram sua fama, embora consiga reinventá-la. Simon e Charlotte parecem perfeitos um para o outro, desde que não queiram colocar amarras sociais a esse caso tão idílico, livre, leve e solto. 

Trabalhando com seu parceiro costumaz na fotografia, Laurent Desmet, Mouret encontra nos espaços fechados a mesma luminosidade ensolarada das ruas e parques. É como se Charlotte fosse um sol para Simon, que brilha com a mesma intensidade em qualquer lugar. Essa delicadeza narrativa é o reflexo do carinho que o diretor tem no trato com seus personagens. Uma comédia profunda em sua leveza, e sagaz, em seus comentários sobre a vida e os amores. 

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