Eu vi o brilho da TV abre com um trecho da música Anthems for a Seventeen Year-Old Girl, do Broken Social Scene, numa gravação de yule. É uma versão estranha para uma música que, em si, já nasceu levemente estranha. A partir disso, Jane Schoenbrun, que assina roteiro e direção, cria um filme de estranhamentos, que nos tira do lugar-comum ao desafiar as narrativas habituais de personagens queers e trans.
Schoenbrun lança-se o tempo todo a essa busca desafiadora e, talvez, quase impossível de, nesse momento, estabelecer essa nova forma de narrar essas experiências. Ela é uma pessoa trans também, e muito aqui deve vir de uma experiência próxima à sua de viver uma espécie de vida dupla, a real cotidiana e a interna sonhada, que não pôde ser externalizada até certo momento.
É um filme que brilha a neon e à luz de aparelhos de televisão antigos. A jornada das duas pessoas jovens centrais no filme é a da autocompreensão diante de um mundo - especialmente dos anos de 1990 - que não faz a menor questão de compreender essas pessoas.
Nesse sentido, o filme se torna exemplar exatamente na sua construção formal de buscar a sua linguagem e sua estética. Toma algo de emprestado dos anos 1990, mas faz um pastiche consciente que ilumina o presente, com uma luz mais forte e natural do que a da televisão - a luz interior das personagens