14/02/2025
Suspense Drama

Conclave

Depois da morte do papa, o decano do Colégio dos Cardeais, cardeal Lawrence, é encarregado do conclave para a eleição de seu substituto. Dentro de um processo rigidamente fechado, surge as disputas internas, em torno da maior liberalização ou fechamento da Igreja. E também segredos incômodos vêm à tona, para inviabilizar alguns candidatos. Nos cinemas.

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Dizer que Conclave, do diretor alemão Edward Berger, é um tremendo suspense eclesiástico é pouco - mas é um modo de começar a falar deste que, inegavelmente, é um dos grandes filmes do ano. Adaptando o livro homônimo de Robert Harris, o roteirista Peter Straughan, já premiado com o Globo de Ouro e alvo de várias indicações, traça o percurso de uma história fascinante, que tira partido do mistério que cerca uma das situações mais cruciais dentro da Igreja Católica: a eleição de um novo papa.

Mantendo intocado, através dos séculos, um cerimonial patriarcal e um tanto barroco, esta votação no centro do filme é conduzida pelo decano do Colégio dos Cardeais, o cardeal Lawrence (um Ralph Fiennes no auge da sua forma). A morte do papa (Bruno Novelli) o pega de surpresa e no centro de uma grande inquietação. Lawrence pedira seu afastamento do cargo no auge de uma crise de fé e o papa lhe recusara. Agora, o cardeal terá de lidar não só com suas próprias dúvidas quanto com a habitual complexidade da votação, que lhe requer todo poder de concentração e liderança.

Como em qualquer eleição impregnada de tanto significado político, formam-se os grupos que pretendem imprimir mudanças em diferentes direções à Igreja. De um lado, estão progressistas que pretendem manter e até aprofundar os ventos liberalizantes conduzidos pelo último papa, caso do cardeal norte-americano Bellini (Stanley Tucci, em outra atuação de luxo), que tem afinidades naturais com Lawrence. No campo contrário, alinham-se os relativamente moderados, caso do africano Adeyemi (Lucian Msamati), de Tremblay (John Lithgow), e um franco reacionário, o italiano Tedesco (Sergio Castellitto, sempre um veneno cômico em cena). E, como um verdadeiro enigma, Benitez (Carlos Diehlz), que chega de surpresa, como o desconhecido cardeal de Cabul. 

Diretor em pleno comando, Berger imprime tensão e movimento a um filme onde a ação se passa entre paredes, no caso, dentro do Vaticano (recriado nos estúdios da Cinecittà), cujas obras de arte evocam os séculos de História acumulados, pesando sobre os seus habitantes, acentuando a claustrofobia que decorre do isolamento total dos cardeais. A agitação aumenta à medida que as votações se sucedem, sem que um claro favorito se imponha, mantendo o impasse. Enquanto isso, segredos incômodos envolvendo alguns candidatos chegam ao conhecimento de Lawrence, criando novos dilemas éticos à sua delicada função.

De quebra, o filme é capaz de traduzir alguns dos grandes embates contemporâneos, envolvendo o tradicionalismo patriarcal renitente da Igreja, mas ultrapassando também seus muros, como o debate sobre a diversidade e o papel das mulheres. 

Neste último sentido, é fundamental a participação de Isabella Rossellini, defendendo o papel da irmã Agnes, governanta do Colégio de Cardeais, a quem cabe uma cena fundamental - e que também é capaz de deixar os espectadores desejosos de que ela tivesse uma participação maior. 

Todo este jogo de poder, movido a manobras e vaidades que exibem seu lado contraditório em se tratando de pessoas religiosas, é conduzido com maestria, com atores no auge de sua forma engajando o envolvimento do público, na mais perfeita tradução do que é e deve ser um grande cinema. Ou seja, uma combinação intensa e buscando a perfeição, entre a fotografia (Stéphane Fontaine), o desenho de produção (Suzie Davies), a montagem (Nick Emerson) e a trilha musical (Volker Bertelsmann). De modo algum se deve esquecer os responsáveis pelo casting, Nina Gold e Martin Ware, que têm que ser recobertos de méritos por montarem a sublime catedral que sustenta tudo isto.

 

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