O longa A Voz que Resta não esconde suas origens teatrais, pelo contrário, tenta achar nelas a força para existir enquanto cinema a partir de um monólogo protagonizado por Gustavo Machado, que também levou a obra nos palcos. Aqui, ele assina a direção ao lado de Roberta Ribas, que era produtora executiva da peça, e também faz uma pequena participação como atriz.
O roteiro assinado pelo autor da peça, Vadim Nikitin, transforma o filme um mergulho numa longa jornada noite adentro na existência de um jornalista, Paulo (Machado), que foi abandonado por mulher, Marina (Ribas), uma vizinha que o seduziu, e o prende numa relação tóxica, sem abandonar o marido para ficar com o jornalista, mas, também, sem abrir mão dele.
Com bloqueio criativo, Paulo resolve que é hora de se afastar de vez de Marina, e grava uma fita cassete rompendo com ela. O monólogo acontece enquanto ele faz essa gravação. Apesar de recente – a estreia é de 2021 –, a peça soa um tanto datada ao colocar em cena exclusivamente a perspectiva do homem ferido pela mulher manipuladora e mesquinha.
Por quase uma hora e meia, ouve-se apenas os lamentos desse personagem, que parece mais vindo de outra época, num delírio etílico de poeta das antigas um tanto enfadonho. Afinal, confissões românticas e sexuais não raro interessam, basicamente, a quem as faz.
Filmado no apartamento do próprio Machado, esse é um filme claustrofóbico marcado pelo falatório de Paulo. Seria possível ter aliviado um pouco esse olhar masculino – até pela presença de uma personagem feminina que não aparecia no teatro – e seu exibicionismo intelectual. Tudo se torna excessivo e cansativo pela duração, que nem é longa, mas parece por conta do falatório meio desgovernado. O trabalho da fotografia é interessante, com luzes vermelhas e azuis, mas sem meio-tom, um tanto como seu personagem.