Este drama ambientado no mundo da máfia novaiorquina da primeira metade do século XX marca o reencontro de veteranos que sem dúvida estão mais do que familiarizados com esse universo: o diretor Barry Levinson (indicado ao Oscar por Bugsy, 1991), o roteirista Nicholas Pileggi (autor dos roteiros de Os Bons Companheiros, 1990; Cassino, 1995 e O Irlandês, 2019) e o ator Robert De Niro, que já perdeu a conta de quantos chefões da Cosa Nostra interpretou no cinema.
De Niro, aliás, comparece em dose dupla, atuando na pele de dois amigos de infância, Vito Genovese e Frank Costello que a vida vai se encarregar de separar por rancores inconciliáveis. Independente de qualquer outra coisa, é sempre um prazer observar as nuances com que De Niro impregna estes dois fraternais inimigos na maturidade, disputando o comando do crime em Nova York. Genovese, o tipo feroz e pavio curto, que se meteu em encrencas depois de um duplo homicídio que o fez exilar-se na Itália por uns tempos, que foram maiores do que o esperado porque no meio disso ocorreu a II Guerra. Costello, o tipo mais conciliador, que ficou encarregado dos negócios na ausência de Genovese e que, apesar de ter-lhe destinado uma generosa fatia da cidade em seu retorno, não aceita o envolvimento com o tráfico de drogas, como quer Genovese, acreditando que isso trará problemas maiores do que o lucro.
Uma imensa quantidade de personagens, chefões menores do império por muito tempo liderado por Costello, acomodam-se como podem nesta rivalidade, que promete disputas e morte - o filme começa, aliás, com um atentado a tiros.
O ponto de vista da história é de Costello, que funciona como um narrador onisciente, enquanto se desdobram os conflitos, em que se situam duas mulheres: a esposa de Costello, Bobbie (Debra Messing), e a mulher de Genovese, Anna (Kathrine Narducci), cada uma exercendo sua cota de influência num ambiente comandado por uma testosterona sempre a ponto de explodir.
A rigor, pode-se perguntar porque mais um filme de máfia, depois do renascimento do gênero com o notável O Irlandês, de Martin Scorsese. E a pergunta resiste mesmo depois de reconhecidos o talento e o empenho de todos os envolvidos aqui. The Alto Knights: Máfia e Poder é um filme competente e até certo ponto bom de ver - embora se possa ressentir de uma profusão de personagens não-marcantes, cuja trajetória e importância na trama torna-se aos poucos difícil de acompanhar, sem acrescentar tempero à tensão que se espera num filme ambientada num mundo criminoso. Sobressai, cristalino, o conflito entre Vito e Frank, tornados críveis pela interpretação nuançada de De Niro - embora sua maquiagem pareça ligeiramente estranha às vezes.
Poucas sequências são memoráveis, talvez apenas a da última parte do filme, num sítio, em que aos poucos se evidencia uma armadilha, e é uma das raras que carrega real expectativa, além do atentado inicial. Entre uma e outra, o filme não flui tão maciamente como seria de se esperar de um diretor tão qualificado quanto Levinson. Talvez ele esteja apenas fora de sua praia.