17/04/2025
Drama

Maré alta

Lourenço abandonou a vida numa cidade pacata e conservadora no interior de São Paulo, e foi para os EUA com o homem que amava. Depois de ser abandonado por ele, esperando a renovação de seu visto, ele conhece um homem que mexe com sua vida.

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Projeto pessoal do ator brasileiro Marco Pigossi e de seu marido, o dramaturgo e diretor italiano Marco Calvani, Maré Alta é um filme que tem um timing, no mínimo, estranho. É a história de um brasileiro, Lourenço (Pigossi), que mora nos EUA, trabalha como faxineiro, e cujo visto de turista está com os dias contados. O longa foi filmado há algum tempo, mas agora, no país governado por Trump, soa estranho que um latino se esforce e se rebaixe tanto – ele é contador por profissão – a fim de continuar no país.

Lourenço foi para lá acompanhado de Joe, um namorado que o abandonou. Instalado em Provincetown, uma vila no Massachusetts, o rapaz mora numa casinha nos fundos da casa de Scott (Bill Irwin), que assume o papel de uma espécie de figura paterna. O brasileiro vive de incertezas e mentiras. Sua mãe, que vive em Itu, onde ele nasceu, não sabe que ele é gay, nem que se mudou apaixonado por outro rapaz. A ela, contou que iria fazer uma pós-graduação nos EUA e que está muito bem de vida. 

O roteiro, também assinado por Calvani, é, claramente, bem intencionado, mas dramaturgicamente frouxo. Provincetown se tornou, nos anos de 1980, uma espécie de refúgio para gays, no auge da crise do HIV. Esse é um tema que cerca o filme de forma datada. As discussões sobre homossexualidade e gays de Maré Alta, portanto, parecem anacrônicas. A sigla LGBTQIAPN+, por exemplo, é mencionada uma vez de forma jocosa por um advogado predador sexual – cujo comportamento, aliás, passa quase batido pelo filme, embora gere desconforto no protagonista.

Entre uma faxina e outra, Lourenço vai à praia, onde conhece o enfermeiro Maurice (James Bland), que está passando uns dias no local com uns amigos. Esses, aliás, seguem alguns estereótipos, como a transexual irreverente, Crystal (Mya Taylor), e outros dois rapazes igualmente divertidos e cínicos (Karl Gregory e Todd Flaherty). Já Marisa Tomei, também creditada como produtora executiva, interpreta uma pintora, ex-mulher do patrão de Lourenço, que acaba acolhendo o jovem e dando o apoio emocional de que ele tanto precisa. 

Lourenço e Maurice acabam se envolvendo, e num dos diálogos o enfermeiro critica o brasileiro, dizendo que "pessoas brancas costumam sexualizar os corpos negros". É uma crítica válida, mas é, curiosamente, o que o filme faz com Bland. A maneira como o retrata, como mostra seu corpo, é apenas para o colocar como um objeto do desejo do protagonista. 

Nessa cena, tornam-se evidentes as dificuldades do longa em lidar com os temas sociais que aspira a discutir. Homofobia e racismo são questões complexas que não encontram a devida profundidade. Os diálogos se tornam altamente expositivos, uma vez que a ação não dá conta de transmitir o que o diretor pretende. Tudo se dá na superfície, assim como Lourenço boiando nas águas azuis das praias de Provincetown. 

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