Grande vencedor do Festival de Gramado de 2024, Oeste Outra Vez é um filme em contato direto com o mundo contemporâneo, discutindo convenções e arquétipos de uma masculinidade defasada, num momento em que tudo isso está em xeque. Desconstruindo e abrasileirando um gênero tipicamente estadunidense – embora tenha seus exemplares em outras cinematografias, mais famosamente na italiana –, o diretor Erico Rassi faz um filme de relevância, que escancara em sua simbologia muito do que está errado neste país.
O cenário, como não podia deixar de ser, é longe de grandes centros urbanos, no sertão de Goiás, onde homens vivem pela suas próprias leis, que variam de pessoa para pessoa. Disso surgem enfrentamentos, não poucas vezes, patéticos, mas, também, perigosos, pois esses homens são incapazes de compreender a si mesmos, que dirá aos outros – e, mais dificilmente, às outras.
Os embates ganham tintas existencialistas, ora assumidamente cômicas, ora de uma comicidade ridícula. A disputa pelo amor de uma mulher – que muito provavelmente nem os quer – é o que dá sentido à vida. Totó (Ângelo Antônio) e Durval (Babu Santana) brigam pela mesma mulher, mas, no fundo, passam mais tempo um com o outro.
A linguagem com que se comunicam é uma tentativa de algo polido, que soa risível dadas as circunstâncias em que se encontram. Essa verbalização é mais uma maneira de se exibirem, de tentarem se mostrar superiores, mas, ao mesmo tempo, é índice da incapacidade de comunicação mútua.
O contraste formal que o filme cria é exatamente entre um gênero marcado por duelos épicos, rebaixados a uma violência quase irônica pautada pela incapacidade desses personagens masculinos enfrentarem a si mesmos e seus sentimentos. A fraqueza é mais emocional do que física. Os duelos são a consequência do ensimesmamento de cada um desses homens. As bebedeiras, as reclamações e os amores não correspondidos são os denominadores que unem esses personagens.
A única figura feminina do filme, Luíza (Tuanny Araújo), logo sai de cena. Sem essa força que cumpriria uma espécie de dialética, os homens em sua masculinidade frágil estão fadados a viver com seus piores inimigos – eles mesmos.