
Mãri Hi – A árvore do sonho, de Morzaniel Iamari (Crédito: Divulgação)
Vencedor da Mostra Competitiva de curtas nacionais do festival É Tudo Verdade, o que o qualifica a concorrer ao Oscar, Mãri Hi – A árvore do sonho, de Morzaniel Iamari, será exibido nos festivais de Gramado e no de Veneza. Neste, como parte do “Eyes of the Forest”, Olhos da Floresta, que exibirá três curtas-metragens Yanomami, na Sala Laguna, em 4 de setembro. Será um dia dedicado ao Primeiro Cineasta Yanomami Morzaniel Iramari e ao Cinema Indígena Yanomami no Brasil, promovido pela Isola Edipo, em colaboração com a Mostra Giornate degli Autori.Em Gramado, que começa amanhã, o curta também será exibido na Mostra Competitiva.
O filme conta com a participação do grande líder e xamã Davi Kopenawa, que nos conduz nessa experiência apresentando o conhecimento dos Yanomami sobre os sonhos.
“Este filme vai ajudar a fazer com que os não-indígenas conheçam o povo Yanomami, conheçam as nossas imagens. Assim todos podem conhecer como nós vivemos na nossa casa e como nós sonhamos, como os xamãs sonham”, explica o cineasta.
Além deste, também fazem parte do evento Thuë Pihi Kuuwi – Uma mulher pensando e Yuri U Xëattima Thë – A pesa com timbó, ambos de Aida Harika, Roseane Yariana e Edmar Tokorino. Estes são os primeiros filmes dos cineastas e estão entre os primeiros filmes dirigidos por mulheres Yanomami que farão sua estreia em um Festival de Cinema Internacional.
A prática da pesca com timbó, o olhar de uma jovem mulher sobre o trabalho dos xamãs e o conhecimento sobre os sonhos são os temas desses três curtas dirigidos pelos jovens cineastas Yanomami.
O registro dos três filmes foi feito na grande casa coletiva de Watoriki, na região do Demini (TIY), produzidos pela Aruac Filmes durante as filmagens do longa-metragem “A Queda do Céu”, filme livremente inspirado na obra homônima de Davi Kopenawa e Bruce Albert, dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. Em 2022, a Aruac organizou junto à Hutukara Associação Yanomami (HAY) e ao Instituto Socioambiental (ISA) uma oficina de montagem audiovisual que ensejou a produção dos três curtas.
Mãri Hi – A árvore do sonho, que fez sua estreia internacional no Sheffield Doc Fest no Reino Unido, deve, segundo o diretor, ajudar os brancos a pensar com os Yanomami sobre a terra e a saúde dos povos originários.
“Nós, Yanomami, somos habitantes da floresta Amazônica. No Brasil, somos quase 30 mil pessoas. A terra-floresta é nossa mãe e cuida do povo Yanomami. Desejamos viver em paz, com alegria e fazendo nossas festas. Os napë pë (brancos, inimigos) gostam de destruir a floresta e pegar as riquezas da terra. Hoje o garimpo ilegal invadiu nosso território, estamos tristes por perder tantos parentes e ver nossas crianças morrendo por doenças. Nosso rio está sujo de lama e mercúrio, mas nosso território é forte por dentro. Com a árvore do sonho, nós sonhamos longe e os xamãs sonham ainda mais longe, conhecem o canto e a dança dos espíritos, o sonho do rio, o sonho do mundo”, explica Morzaniel Iramari, que estará presente na Isola Edipo por ocasião do Festival de Cinema de Veneza, no qual, além de apresentar os filmes, promoverá uma masterclass, ao lado dos produtores Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha.
O evento da Isola Edipo no Festival de Veneza faz parte do foco anual "Cinema de inclusão entre a visão e a educação", que está em sua sétima edição. O objetivo da iniciativa deste ano é destacar a visão direta e íntima de cineastas da comunidade Yanomami, uma das populações indígenas mais conhecidas da Amazônia e sua crescente importância no cenário cinematográfico internacional. Um ato político devolvendo à floresta seus olhos, corpos e vozes para conscientizar sobre a situação Yanomami atual e a necessidade urgente de proteger seu território e seu modo de vida.
Os três curtas são uma produção Aruac Filmes com coprodução da Hutukara Associação Yanomami e produção associada da Gata Maior Filmes. Os filmes contam com o apoio institucional do Instituto Socioambiental e apoio de uma rede de fundações e instituições internacionais que trabalham diretamente com a Amazônia Brasileira.