Entre os dias 20 e 24 de novembro, a Cinemateca Brasileira apresenta a mostra Cinemas da África Subsaariana: Clássicos Restaurados. A programação traz uma seleção de 12 filmes restaurados que ilustra a diversidade de narrativas e estilos da geração de cineastas considerados pioneiros na criação de um cinema feito por africanos negros. Por mais de meio século, o cinema foi utilizado como uma ferramenta colonial na África, retratando os diversos países do continente como cenários exóticos e criando imagens grotescas e desumanizantes das populações locais. Neste período, a realização de produções africanas era proibida pelas metrópoles, que garantiam, assim, o monopólio da representação. Com as lutas de independência, cineastas africanos assumem o controle das câmeras e começam a construir suas próprias narrativas Este processo, por exemplo, é documentado em Câmera da África (1983), que lança um olhar preciso para os 20 primeiros anos do cinema na África Subsaariana, com entrevistas e imagens raras e fundamentais para a compreensão dessa cinematografia que nascia.
Os filmes desta mostra retratam e refletem as lutas anticoloniais, incorporando em sua estética preceitos de um cinema militante e contra hegemônico. É o caso de Mandabi (1968), uma sátira do persistente legado colonial pós-independência. Dirigido por um dos maiores nomes do cinema africano, Ousmane Sembène, é o primeiro filme feito em um idioma originário do continente. Já as revoltas contra a colonização europeia são retratadas em Tabataba (1988), drama histórico que marca a estreia cinematográfica tanto de Madagascar, quanto de Raymond Rajaonarivelo, único diretor malgaxe a ser selecionado no Festival de Cannes.
O distanciamento de suas terras natais, vivido por africanos que migram para as metrópoles europeias, é tema da sessão de curtas “Filmando o exílio e seu retorno”. Em África sobre o Sena (1955), os diretores Paulin Soumanou Vieyra e Mamadou Sarr criam o retrato de uma Paris negra e africana, evocando poeticamente as ambiguidades das identidades de jovens que, como eles mesmos, buscam uma educação europeia. Filmada na França após as autoridades coloniais negarem permissão para rodar no Senegal, a obra é considerada precursora de um cinema africano negro. Se a adaptação longe de casa é difícil, o processo de retorno não é menos complexo. Seus desafios são retratados em Concerto para um exílio (1967) e no faroeste O regresso de um aventureiro (1966).
A mostra traz ainda filmes que se dedicam a pensar os desejos e desafios das infâncias em contextos pós-coloniais: A bola de ouro (1994), história de um jovem guineano que sonha em ser jogador de futebol profissional, e o clássico incontornável A pequena vendedora de Sol (1999), gravado enquanto o diretor Djibril Diop Mambéty enfrentava uma longa e debilitante doença e finalizado postumamente. As crianças também são protagonistas em Yaaba (1989), vencedor Prêmio da Crítica no Festival de Cannes que, segundo o diretor Idrissa Ouedraogo, é “não exatamente um conto, mas a memória de uma história que me contaram”. A herança cultural africana da oralidade, transmitida de geração em geração, é uma expressão de ancestralidade recuperada estética e poeticamente no cinema africano da época, como em Samba, o grande (1977) – animação em stop-motion feita com marionetes e desenhos, inspirada notavelmente nas tradições griôs.
Cinemateca Brasileira
Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, São Paulo/SP
Telefone: (11) 5906-8100
Entrada gratuita
Ingressos distribuídos uma hora antes da sessão.