O brilho infinito de Gena Rowlands
E lá se foi mais uma das minhas musas na vida, Gena Rowlands. Tinha 94 anos e uma história que muito poucas atrizes hoje podem ostentar. Era uma estrela, no mais alto sentido da palavra, uma intérprete destemida, uma personalidade enérgica e de uma beleza que resistiu ao tempo - até porque não tentou nunca disfarçar a passagem dele.
Lembro-me dela quando a vi de perto, há 18 anos, no Festival de Cannes, em que ela foi protagonizar as então famosas Leçons - e ela tinha muitas lições para dar, embora, de cara, modestamente tenha dito que não tinha nenhuma. Chegou linda, vestida num conjunto bege, os cabelos louros arrumados para trás e um cigarro nas mãos - sua geração tinha nesse pequeno objeto um sinal de emancipação feminina. Falou de sua carreira, de seus papéis ao lado do marido, John Cassavetes, que a dirigiu em filmes inesquecíveis como Faces (1968), Assim Falou o Amor (1971), Uma Mulher sob Influência (1974, meu favorito), Noite de Estréia (1977, que lhe deu um prêmio de atuação em Berlim), Glória (1980), Amantes (1984). Sempre com uma elegância que ultrapassava a aparência: Gena era uma grande mulher e isto explodia por todos os seus poros.
A Academia de Ciências e Artes de Hollywood foi avara com ela, como com muitos outros intérpretes qualificados, nunca lhe entregando um Oscar, ao qual ela foi indicada por Uma Mulher sob Influência e Glória. Na tela, Gena podia tudo: era louca, bandida, amante, esposa, mãe, uma paciente com demência. A toda e qualquer situação e circurstância ela dava consistência, dignidade. Passava pela tela como um cometa, deixando atrás de si um rastro luminoso de vida, de personalidade. Faz uma falta infinita a todas nós que, como eu disse anos atrás, queríamos ser Gena quando crescêssemos. Brilha, brilha no céu, Gena infinita.