21/03/2025
Drama

Piedade

Na pequena comunidade de Piedade, um grupo de moradores resiste aos problemas causados pela instalação de um porto e plataformas de petróleo. O líder local é Omar Shariff, dono de um bar, que vai sofrer as pressões de Aurélio, um empresário paulista.

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Fernanda Montenegro batiza com sua presença luminosa dois dos mais inspirados melodramas dos últimos tempos, Piedade, o esperado novo longa de Cláudio Assis, e A vida invisível, de Karim Aïnouz. Ambos filmes com muitas camadas de complexidade e sentimentos, tomando o pulso de um país conflagrado, mas repleto de afetos e possibilidades. 

Roteirizado por Hilton Lacerda, Anna Francisco e Dillner Gomes, Piedade resgata uma história profundamente dolorosa da biografia do próprio Assis - a perda de um irmão, que foi roubado na maternidade e que ele procurou a vida toda. Com uma longa gestação, Piedade acaba ganhando uma nova repercussão neste seu lançamento - mais uma vez comprovando como a arte pode ser premonitória. 
 
Desde o início,a história carregava duas linhas, em torno da procura do irmão e de como uma empresa petroleira (Petrogreen) afeta drasticamente as vidas dos moradores de uma comunidade litorânea. Como observou Matheus Nachtergaele na coletiva do filme, depois de sua primeira exibição no Festival de Brasília, em novembro de 2019: “O filme tinha um desejo de falar do ultracapitalismo representado pela indústria petroleira invadindo as praias do afeto brasileiro. Somos seres praianos. Mas os vazamentos de óleo acrescentaram uma camada que o filme não tinha”. 
 
Os afetados pela empresa têm em Omar Shariff (Irandhir Santos), dono de um barzinho na fictícia Piedade, uma liderança que enfrenta as investidas de Aurélio (Matheus), um empresário paulista que tenta comprar o bar e expulsar os moradores dali, onde se instalaram um porto e plataformas de extração de petróleo - obras que, afetando o meio ambiente, trouxeram para perto da praia os tubarões, que atacam os banhistas.
 
Essa questão dos tubarões remete às obras do porto de Suape, na região metropolitana de Recife, 40 anos atrás, que realmente tiveram essa consequência na capital pernambucana, com ataques desses predadores a banhistas e surfistas depois que seu suprimento de peixes foi afetado.
 
Ao se aproximar desta familia, que ele deseja comprar, Aurélio acaba levantando um fantasma de seu passado, envolvendo um bebê roubado da maternidade, tragédia que se tornou uma obsessão na vida de dona Carminha (Fernanda Montenegro), mãe de Omar, que nunca esqueceu o filho perdido. 
 
Descrevendo seu personagem, Matheus lembrou que, sendo paulistano, é um tipo que ele reconhece. “Conheço essas pessoas, que raspam a cabeça para esconder a calvície e cuja única alegria na vida é comprar uma roupa nova e viajar para Miami”. 
 
Os outros personagens que gravitam neste universo são Sandro (Cauã Reymond), dono de um cinema pornô, seu filho Marlon Brando (Gabriel Leone), um ativista ambiental que faz vídeos com seus amigos, Fátima (Mariana Ruggero), irmã de Omar e filha de Carminha que mora no Recife, Ramsés (Francisco de Assis Moraes), filho de Fátima, e, numa participação muito divertida somente em tela de computador, Denise Weinberg - como a mãe de Aurélio que o atormenta e controla via skype. 
 
A entrada de Fernanda Montenegro no elenco deu-se por meio de Matheus Nachtergaele, Ele sugeriu a atriz, com quem contracenou diversas vezes, a Cláudio Assis, mas este achava que ela não aceitaria trabalhar com ele. Matheus procurou a produtora da atriz e ficou claro então como Fernanda já era grande admiradora do diretor. A integração dela foi tranquila: Ela veio sozinha, sem acompanhante, e, bem antiestrela, fez questão de ter tudo igual ao resto da equipe.
 
No Festival de Brasília 2019, o filme venceu três prêmios: Especial do Júri para Assis, ator coadjuvante para Cauã Reymond e direção de arte.
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