Em A Suspeita, de Pedro Peregrino, Glória Pires interpreta a comissária de polícia Lúcia Carvalho, uma veterana respeitada e que está começando a sofrer do mal de Alzheimer.
Glória compõe uma personagem forte, individualista e solitária, que esconde das demais pessoas sua doença, que ela dribla com mensagens no próprio celular e na secretária eletrônica, lembrando-a dos remédios e de tarefas a cumprir. Paralelamente, ela vive o maior dilema profissional de sua vida, ao ser envolvida na morte de seu parceiro, Paulão.
Filmando em espaços fechados, numa batida claustrofóbica, o diretor enclausura sua protagonista em seu mundo e também numa trama em que se embaralham corrupção policial e relações perigosas com chefões do tráfico.
Diretor com experiência em televisão e assistente em Tropa de Elite (2007), Peregrino encanta-se com sua trama de seriado policial mas deixa escapar oportunidades de mergulhar mais fundo nos sentimentos de sua protagonista – o que faz, apressada e tardiamente, na porção final do filme. Da maneira como constrói sua história, dificulta não só a compreensão do que está realmente acontecendo como perde a chance de angariar mais empatia com a fragilizada e heróica Lúcia – que, mesmo com a fragmentação de suas habilidades, consegue montar um esquema para lutar a que parece ser sua última batalha dentro da lucidez.
No elenco coadjuvante, também não sobram muitas chances a atores tarimbados, como Gustavo Machado (como o delegado Gouveia) e Genézio de Barros (como o tio padre de Lúcia). No aspecto técnico, é uma produção bem-resolvida, criando um filme de gênero de bastante respeito.